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brasília

Rompimento na Câmara e desgaste no Senado criam cenário mais difícil para Lula

A declaração pública de Hugo Motta — “não tenho mais interesse em ter qualquer relação com Lindbergh Farias”

Por Pereira Jr. • Articulista Polí­tico

25/11/2025 às 08:26

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Imagem Hugo Motta, e Presidente Lula

Hugo Motta, e Presidente Lula ‧ Foto: Ricardo Stuckert / PR

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A crise que se instalou entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o líder do governo na Casa, Lindbergh Farias (PT-RJ), expõe não apenas um atrito pessoal, mas uma fissura institucional que coloca em xeque a articulação política do governo Lula no Congresso. O episódio, deflagrado após a votação do PL Antifacção, revela um cenário de desgaste mútuo e de desconfiança crescente entre parlamentares e Planalto.

A declaração pública de Hugo Motta — “não tenho mais interesse em ter qualquer relação com Lindbergh Farias” — oficializa um rompimento que vinha sendo construído nas últimas semanas. O presidente da Câmara se ressentiu das críticas do governo ao PL Antifacção, aprovado com ampla maioria e apoiado por diversos partidos do Centrão. Para Motta, o Planalto teria criado uma “narrativa desonesta” ao sugerir que o texto enfraqueceria o combate ao crime organizado, sinalizando, na visão dos deputados, uma tentativa de desgaste eleitoral da Câmara.

Lindbergh, por sua vez, reagiu nas redes sociais classificando o projeto como “um desastre” e dizendo que foi rejeitado “por todos os especialistas”. A fala ampliou o abismo entre ele e os líderes do centrão, que enxergaram no discurso petista uma tentativa de transferir ao Legislativo o ônus político da derrota do governo no plenário.

Essa troca de ataques não se limita a estilos diferentes de atuação, mas demonstra um problema mais profundo: a desconexão entre a estratégia do governo e o funcionamento interno da Câmara. Para aliados de Motta, a atuação de Lindbergh isolou ainda mais o governo e dificultou qualquer tentativa de diálogo com as bancadas que garantem votações estratégicas.

Esse ambiente adverso coloca o Executivo diante de um desafio imediato: reconstruir pontes. A deterioração das relações ficou ainda mais evidente porque, simultaneamente, o Senado vive sua própria crise após a indicação de Jorge Messias ao STF. A escolha, feita sem consulta prévia ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre — responsável por pautar a sabatina — foi lida como gesto unilateral do Planalto, provocando forte irritação.

A ausência de uma ligação prévia de Lula antes do anúncio, confirmada pela assessoria de Alcolumbre, fortaleceu a percepção de desprestígio e desarticulação política. Para senadores, o governo ignora interlocutores essenciais em momentos decisivos.

Embora Jaques Wagner tenha tentado suavizar o episódio, reconheceu que houve “chateação”. A reunião marcada entre Wagner e Lula busca conter o dano, mas a irritação generalizada no Senado indica que o desgaste vai além da indicação ao Supremo.

O resultado é um cenário raro: Câmara e Senado — historicamente distintos em seus conflitos — convergem agora em um ponto comum: a insatisfação com a articulação política do governo.

A crise entre Hugo Motta e Lindbergh, somada ao desconforto de Alcolumbre com o Planalto, sinaliza um momento crítico para Lula. O governo enfrenta dificuldades simultâneas nas duas Casas, em temas distintos, mas por motivos semelhantes: falha de comunicação, falta de coordenação e decisões tomadas sem consulta.

Se o Planalto não reorganizar rapidamente sua articulação, corre o risco de sofrer derrotas consecutivas e perder controle sobre pautas estratégicas. A disputa em torno do PL Antifacção e a resistência à indicação de Messias ao STF são sintomas de um ambiente que exige reconstrução imediata de confiança — algo que, neste momento, parece distante.

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