25/11/2025 às 15:03
Cop30 ‧ Foto: divulgação
A COP é um fórum de discussões relativamente recente porque resulta da conclusão igualmente contemporânea de que temos um problema novo para administrar: a sustentabilidade das condições de vida no planeta. Algo novo, complexo e de visibilidade não muito clara. Até pouco tempo se travava uma batalha de indicadores para confirmar ou negar a hipótese de que estamos destruindo o mundo, mas agora há consenso entre os cientistas de que há um processo em curso e quem pagará por ele são as próximas gerações, se não fizermos nada. São diversas áreas de pesquisa envolvidas estudando os desmembramentos da ação humana nas condições de vida existentes.
Não é fácil convencer pessoas mais simples acerca de um processo de longo prazo que está apenas começando, ainda que ele esteja se acelerando. Secas sempre houveram, verões mais quentes e invernos mais rigorosos também, por isso foi importante a COP 30 chegar a um acordo quanto à necessidade de se estabelecer indicadores referenciais para o processo. Como também é difícil convencer os países ocidentais centrais a compensar seus históricos poluidores para financiar a manutenção das florestas e reservas de outros biomas em países periféricos. Os fundos para isso ainda são tímidos e os grandes capitais sediados nesses países resistem duramente a medidas dessa natureza, pois grande parte deles são predadores, não admitem redução de presas para obter lucros.
A reconstrução de florestas ainda é possível e está sendo operacionalizada por países como a Alemanha (https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/08/19/em-cem-anos-europa-ficou-mais-verde-mesmo-apos-duas-guerras-mundiais.ghtml ), a um alto custo financeiro, mas a conta já não pode considerar apenas os custos presentes, já que o custo futuro é incomensuravelmente maior. A ajuda concedida aos países pobres para conservar florestas é muito importante devido à pressão de capitais locais e grupos fora da lei para expansão da fronteira agrícola. Mesmo com todo crescimento econômico, o Brasil ainda é um país essencialmente primário exportador e as plantações avançam pela área denominada MATOPIBA (iniciais dos Estado Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), atropelando ecossistemas diversos paralelamente à ocupação da Amazônia e Pará.
Para além dos indicadores, sinais podem ser observados e um dos principais que podemos observar é a redução na vazão dos rios (https://climainfo.org.br/2025/06/23/estudo-aponta-perda-de-27-da-vazao-dos-rios-do-cerrado-em-50-anos/ ). Há muita água no oceano para dessalinizar, mas a alteração na dinâmica da vida orgânica tem repercussões elevadas e em cadeia, difíceis de qualificar e quantificar. Não dá nem para imaginar a terra sem rios cortando sua rispidez, mas dá pra sentir a falta de humidade nas veias dos que não se importam com eles e os danificam direta ou remotamente, comandando operações que afetam os rios.
A sustentabilidade é mais uma das questões que a ciência deve ser o parâmetro principal e ela pena para convencer a sociedade do problema, sempre com a desvantagem da complexidade do problema. Ainda mais em países mais pobres em que boa parte da população está preocupada com o imediato, com a sobrevivência no dia presente. Se não for pelos outros, que seja pelas próximas gerações, nossos próprios filhos e netos. Se há dificuldades no presente, podem haver algumas intransponíveis no futuro e a economia tem que se dobrar a essas restrições para continuar sustentando a humanidade. Tanto os capitais devem se acostumar com essas restrições, como os consumidores, que podem ter encarecimento de algumas mercadorias por isso, e mesmo substituição de itens por outros, como as que usam combustíveis fósseis, por exemplo. Vivemos num mundo em transição, fase de descobertas, redescobertas e definições, mais do nunca precisamos estar abertos a novos horizontes, afinal a vida está em jogo.
* Professor titular do departamento de economia da Universidade federal da Paraíba.

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