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melhor idade

As perspectivas da terceira idade  -  por: Alexandre Lyra*

À medida em que a idade para aposentadoria vai aumentando para compensar o aumento da expectativa de vida no planeta e a redução na base da pirâmide etária

Por Alexandre Lyra • Política

03/11/2025 às 16:20

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Imagem A partir do final dos anos 1940, começou a melhorar a qualidade de vida dos idosos

A partir do final dos anos 1940, começou a melhorar a qualidade de vida dos idosos ‧ Foto: divulgação

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Em todo mundo as pessoas estão vivendo mais. Mais ainda em países desenvolvidos e menos em países pobres, de modo que a consolidação desse fenômeno social leva a mudanças na sociabilidade, na forma como nos relacionamos socialmente e economicamente. A mudança pode ser vista por meio da chamada ‘pirâmide etária’, que gradativamente está deixando sua forma tradicional para se aproximar à forma de uma famosa garrafa de refrigerante arredondada. São gráficos que mostram a população dividida por faixas etárias (e também por sexo) tendo por base as faixas iniciais de vida, indo ao cume composto pelas faixas finais da vida, daí porque até recentemente eles eram chamados de pirâmide. Por muito tempo, os segmentos mais novos eram significativamente mais numerosos, e à medida em que a vida vai transcorrendo, o número de pessoas que morre vai aumentando, com poucos chegando a idades mais avançadas. A combinação dos resultados expressivos da ciência, sua disseminação na saúde, com a diminuição das guerras de maiores proporções e o crescimento econômico generalizado no século XX, possibilitou a extensão da vida, de modo a mudar a distribuição etária da população e alterar a forma do gráfico: agora há relativamente menos pessoas na base e mais no topo.

Ao mesmo tempo que isso acontecia, os sistemas de previdência social foram expandidos na esteira da adoção do Estado do bem-estar social. A partir do final dos anos 1940, começou a melhorar a qualidade de vida dos idosos, que antes era precária para a maioria, afinal na velhice a renda, em regra, diminui e as despesas, aumentam. Ocorre que essa concepção de Estado está sendo criticada nas últimas décadas devido à volta do liberalismo mais radical, que não gosta de Estados corpulentos e prefere estimular a iniciativa de cada um, inclusive nos mercados de previdência privada. Ressaltadas as variações de intensidade dessa mudança nos países, afinal há países mais resistentes e outros mais simpáticos a elas, em todo mundo há uma pressão pela redução da atuação do Estado na área, com reformas previdenciárias sendo encaminhadas. São discussões necessárias e muito delicadas, pois envolvem mudanças substanciais, rápidas e contraditórias na formatação da convivência social, pois na medida em que os mais velhos perdem direitos econômicos, ganham direitos sociais.

À medida em que a idade para aposentadoria vai aumentando para compensar o aumento da expectativa de vida no planeta e a redução na base da pirâmide etária, também vai sendo gradativamente eliminada a diferença de idade para sua obtenção entre os gêneros, já que as mulheres tendem a viver mais e os homens estão sendo chamados a cumprir seu papel social na família para além do tradicional provedor. Com a redução na quantidade de trabalhadores ativos proporcionalmente ao aumento dos inativos, é preciso aumentar o tempo de atividade produtiva das pessoas, até para acompanhar o maior vigor relativo, principalmente na faixa dos 50/60 anos, que décadas atrás estaria debilitada e inapropriada para o trabalho. Os governos, por seu turno, tentam segurar os valores das aposentadorias e desvincular esse valor da remuneração dos trabalhadores ativos. De outro lado, os jovens estão demorando mais a entrar no mercado, que está absorvendo menos mão de obra em virtude das avançadas tecnologias recentes terem tornado bem mais produtivo o trabalho humano e substituído esse em muitas ocupações (cobradores de ônibus, caixas de supermercado ou banco, etc.).

O desenrolar dos acontecimentos vai num sentido diferente no ambiente social, onde a sociedade tem abraçado a ‘terceira idade’, lhe conferindo e ampliando direitos. Agora os idosos têm prioridade nas cadeiras dos coletivos e em atendimentos preferenciais, entre outros direitos, mas a adoção desses protocolos, embora resultados de consensos sociais, vão precisar passar por revisões em breve, uma vez que a quantidade de idosos desfrutando desses direitos continua aumentando.

Enquanto a terceira idade era um segmento marginal, as prioridades não afetavam o atendimento dos trabalhadores ativos, mas com seu crescimento contínuo, o tempo para o atendimento dos ativos está se reduzindo, exigindo mais atendentes, mas como as empresas resistem em contratar mais funcionários, a saída é aperfeiçoar a norma. Se os idosos estão mais saudáveis, o ajuste pode ser uma alteração conceitual, ou seja, na idade inicial da velhice, aumentando, ou senão mantendo a idade e incorporando uma debilidade de saúde para complementar a condição, afinal boa parte das pessoas na faixa dos 60 está bem e não precisaria ter direitos adicionais, já que se assemelham aos mais novos. Provavelmente em breve a sociedade precisará discutir esses pontos.

Antes as mudanças na humanidade não eram percebidas porque eram lentas demais e precisavam de gerações para acontecer, agora as mudanças ocorrem aos nossos olhos, e a nova sociedade precisa ser mais ágil na adaptação às novas realidades, que tem elementos facilitadores (geralmente tecnológicos) e dificultadores (humanos) para implementação de melhores condições socioeconômicas de vida. O problema é que as pessoas acabam dando muita atenção à tecnologia e não estão se desenvolvendo muito humanamente, e é necessário evoluir em relação às gerações presentes porque o sarrafo dos desafios aumenta. Inteligências artificiais não resolvem problemas novos, nem sociais, e é disso que se trata, inclusive decidindo o que fazer com a própria tecnologia.

 

* Professor titular do departamento de economia da Universidade federal da Paraíba.

 

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