
25/11/2025 às 16:22
Os batuques de tambor e o som do agogô foram apenas alguns dos sons que embalaram, nesta terça-feira (25), em Brasília, o cortejo de mulheres negras do Brasil e da América Latina, na segunda edição da Marcha das Mulheres Negras, que pediu “por Reparação e Bem Viver”. 

Foi o que contou Raquel Viana, da Marcha Mundial das Mulheres, que veio do Ceará para se juntar ao ato.
"A questão da reparação é a luta histórica do povo negro e as mulheres negras trazem para a sua pauta. Essa questão para nós é fundamental. Então, nós entendemos que há uma dívida histórica do Estado brasileiro com o povo negro, mas sobretudo com as mulheres negras. E pelo bem viver, porque é justamente uma sociedade que nós imaginamos que é uma sociedade em que as mulheres têm um lugar de respeito, sem opressão e que têm condições de viver uma vida digna."
Cinco trios elétricos acompanharam todo o cortejo das mulheres negras, que carregavam na pele, nos penteados, no rosto e nas vestimentas as vivências das ancestrais que, segundo elas mesmas, também estavam presentes nas ruas da capital do país.
Quem veio de Cuba para a marcha foi a professora de filosofia da Universidade de Havana, Maydi Bayona. Segundo ela, a lógica colonial atravessa muito mais os corpos das mulheres negras.
"Estou aqui representando todas as nossas mulheres negras, nossas ancestrais que já partiram, mas que nos reuniram aqui para exigir justiça reparadora, por nosso conhecimento, por nossos filhos perdidos, arrancados pela lógica colonial, pela miséria, pela dignidade. A lógica colonial afeta todas as mulheresm, mas especialmente os corpos negros".
Durante a manifestação, palavras de ordem e cantos reivindicavam direitos básicos, como moradia, emprego e segurança. Durante o grande ato, as mulheres negras classificaram como “chacina” a megaoperação policial realizada no fim de outubro nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. Esta foi uma das principais pautas, de acordo com Tamara da Silva, da Renfa, Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas.
"A política de segurança pública reflete na vida das mulheres negras e de todas as comunidades. A gente denuncia a guerra às drogas, trazendo uma proposta de reparação a partir da legalização. A gente entende que é um tema complexo, mas entende também que a guerra às drogas não tem funcionado. A prova disso é, eu acho assim, que aconteceu no Rio de Janeiro. E aí a gente tem de que os nossos corpos não têm esse direito de viver. Para o filho da rica, tem cuidado. Para a filha do pobre, tem tiro, porrada e bomba e prisão."
Aos 80 anos, Dona Eurides da Costa, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, participa da marcha das mulheres negras pela segunda vez. Ela esteve na primeira edição, em 2015, representando as cozinhas comunitárias. Dona Eurides relata que a violência contra a população negra tirou dela 6 dos 14 filhos que teve, mas não a vontade de ocupar os espaços.
Mas Deus me dá força. As pessoas não têm noção, Elas acham que, às vezes dizem, ai, mas tu é negra. Como é que tu vai em certos lugares? Eu digo eu vou em qualquer lugar eu entro, represento.
Sandra Andrade veio de Bom Despacho, Minas Gerais, do quilombo de Carrapato da Tabatinga. Ela é coordenadora Nacional da CONAQ, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas. Ela avalia que muita coisa ainda precisa avançar, incluindo a assistência à saúde da população quilombola.
"O que evoluiu foi mais pela persistência e resistência das mulheres. Nós estamos voltando neste 2025 com novas reivindicações e com as mesmas que não foram implementadas. Porque para gente continuar tendo essa resistência, nós precisamos da nossa saúde específica. Nós temos dado alarmantes de nossas crianças nos quilombos morrendo de diarreia e outras doenças erradicadas, porque nós não temos saúde".
As participantes da marcha estão na capital do país desde a semana passada, realizando atividades da Semana por Reparação e Bem-Viver, que termina nesta quarta-feira.
No Brasil, as mulheres negras são o maior grupo da populacional, segundo o Ministério da Igualdade Racial: são mais de 11 milhões - entre as mulheres pretas e pardas -, representando 28% da nossa população.
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