
19/11/2025 às 21:14
Um projeto de educação antirracista parte de uma pedagogia que cria condições reais de pertencimento e permanência de negros dentro da escola. Quem faz essa defesa é a pesquisadora Fabiana Rodrigues da Silva, mestra em Humanidades, Direitos e outras Legitimidades, do programa de pós-graduação da Faculdade de Filosofia da USP, Universidade de São Paulo.

Com a dissertação Corpografias negras: afetividade e pedagogias emancipatórias em práticas antirracistas, Fabiana Rodrigues da Silva venceu o V Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos Unicamp-Instituto Vladimir Herzog.
Para ela, um ambiente afetuoso e acolhedor estimula a aprendizagem dos estudantes e vai na contramão das violências presentes em atos de discriminação racial:
"É uma ferramenta capaz de criar esses ambientes seguros que nós tanto precisamos para gerar o pertencimento e a permanência das pessoas racializadas dentro dos espaços de escolarização formal, pensando em fortalecer identidades, reparar esses danos provocados pelo racismo estrutural, institucional, pensar no afeto, como ele aparece, como forma de resistir, reconstruir subjetividades negras."
A acadêmica abordou experiências pessoais de racismo em ambiente escolar, o que é uma forma de “escrevivência”, como ela mesma definiu. Esse termo, criado pela escritora mineira Conceição Evaristo, une as palavras “escrever e vivência”, o que alcança práticas coletivas, como explica Fabiana:
"Eu falo que a minha avó viveu num tempo em que ela não teve acesso à escola. A minha mãe teve acesso, mas não conseguiu permanecer, ela só cursou o primeiro ano. Eu consegui ter acesso e permanecer. E, em muitos momentos durante o meu mestrado, eu consegui ter a experiência do pertencimento. E é esse processo que eu gostaria muito que o meu filho, que eu luto aí nessas práticas."
A pesquisadora propôs ainda uma reflexão sobre mudanças necessárias na forma de representação das pessoas negras:
"As nossas narrativas sempre tiveram a dor como protagonistas. Nós nunca conseguimos ter acesso a um lugar e uma narrativa de potência, de beleza. Então, é este lugar que eu pleiteio mesmo, que eu sempre reforço que te traga para que as crianças consigam se sentir representadas e consigam se fortalecer e desejar fazer parte e construir essa narrativa junto".
A pesquisa cita três linhas de combate ao racismo estrutural no processo formativo de crianças e jovens: por meio da reformulação das referências bibliográficas usadas em sala de aula; do cumprimento efetivo da lei que exige o ensino da história e da cultura afrobrasileira e indígena; e da formação continuada dos professores.
*Com produção de Salete Sobreira
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