08/10/2025 às 13:54
A trajetória política do Nordeste é marcada por uma história de contrastes. Durante séculos, o poder se concentrou nas mãos das oligarquias. O coronelismo moldava as relações de dependência e controle do voto. Na Era Vargas e depois na Ditadura Militar, a centralização do poder no Rio de Janeiro e mais tarde em Brasília, limitou a autonomia regional. Mas, com a redemocratização, o cenário passou a ser mais plural. Sobre essas transformações, a cientista política Monalisa Torres destaca que, por muito tempo, as elites se beneficiaram do atraso econômico, o que agravou as desigualdades sociais:
"Então, eles trocavam os votos por cargos. E o governo eleito, em troca, fornecia os instrumentos para que essa manutenção e essa influência sobre a política local se mantivesse. Que cargos eram esses? Eram indicação de delegados, indicação de juízes, nomeação em funções públicas. Então, os governadores garantiam o acesso à máquina, e em troca, a elite local oferecia os votos. E essa era a estrutura que mantinha essa população, mantinha o poder das elites locais e fazia funcionar o sistema coronelista", conta.
Nos últimos anos, o cenário já não é de hegemonia. Com o avanço de partidos de esquerda e centro-esquerda, o quadro se tornou mais disputado e fragmentado. Programas sociais voltados à população mais vulnerável contribuíram para reduzir desigualdades, melhorar a qualidade de vida e ampliar o poder de compra das camadas mais pobres. Como consequência, o Nordeste passou a ter voz mais forte nas urnas e ganhou papel decisivo nas eleições presidenciais. Esse movimento é analisado pelo cientista político Cláudio André, autor do livro Voto e Política no Nordeste:
"E o que a gente percebe é que o século XXI rompe com essa estrutura oligárquica e vai se construir através de um novo padrão de comportamento eleitoral, sobretudo focada na defesa de uma agenda que buscasse superar as desigualdades sociais, no padrão de representação política, no comportamento eleitoral e na ascensão de um novo ciclo político que também coloca uma nova agenda em debate, em torno das questões envolvendo as políticas públicas. Buscando a inclusão, políticas de saneamento, infraestrutura, geração de emprego e essas transformações que a gente percebe em uma nova estabilidade em torno do voto", explica.
Além da disputa eleitoral, os governos estaduais também se articulam com mais integração e cooperação. O Consórcio Nordeste, criado em 2019, reúne os nove estados da região e tem como objetivo fortalecer políticas públicas, atrair investimentos e enfrentar desafios comuns. Essa estratégia tem se mostrado inovadora para articular ações políticas e econômicas de forma coletiva, segundo o presidente do consórcio e governador do Piauí, Rafael Fonteles.
"O Nordeste tem um papel fundamental na política nacional, não apenas pela força de sua gente e de sua cultura, mas também pela capacidade de se unir em torno de um projeto comum de desenvolvimento. Como presidente do Consórcio Nordeste, sou enfático em afirmar que nossa região é a expressão maior dessa união. Estados que se articulam juntos, defendendo investimentos em infraestrutura, segurança, inovação, educação, saúde e na transição energética, que é um dos grandes desafios do nosso tempo, uma das grandes oportunidades da nossa região. O Nordeste é orgulho para o Brasil e continuará contribuindo de forma decisiva para um país mais justo, mais equilibrado e com oportunidade para todo o nosso povo", diz.
*Com a colaboração da Rádio Antares do Piauí
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