17/09/2025 às 07:50
“A nossa profissão, vou dizer estradeiros. Profissional do volante, principalmente, nós, rodoviários... Eu já cheguei ao meu extremo, já cheguei muito cansado, estressado no trabalho”. O depoimento de Del Caminhoneiro, que está a 26 anos na estrada, é também o de muitos profissionais que andam pelas rodovias do país.
Segundo levantamento da plataforma de gestão de saúde psicológica Moodar, 20% dos profissionais de frota apresentam alguma vulnerabilidade emocional. Quem detalha é a neurocientista Barbara Lippi:
“1 em cada 5 profissionais de frotas e logística apresentam algum nível de vulnerabilidade emocional. Então a gente está falando aí de cerca de 20% do público em sofrimento psíquico”.
O psiquiatra Alcides Trentin Junior diz que a ABRAMET - Associação brasileira de Medicina do Tráfego - tem orientado os médicos do tráfego sobre a importância do atendimento.
“A ABRAMET como associação científica, ela veicula para todos os médicos do tráfego, que são aqueles profissionais especialistas que atendem os motoristas em todo o país, a importância de avaliar o caminhoneiro de uma forma muito criteriosa, justamente por ser um profissional que exerce uma atividade penosa.”
Para Trentim Junior, os caminhoneiros precisam ser avaliados e monitorados de maneira periódica. Ele destaca o papel do Estado:
"Eu acho que o papel mais importante que a gente pode ter aí de contribuição é do próprio Estado, que precisa garantir uma estrada sinalizada, com boas condições de tráfego e políticas públicas que realmente levem isso a contribuir para que a atividade seja exercida de uma maneira mais saudável".
E como melhorar a saúde mental dos motoristas? Barbara Lippi diz que a pesquisa da Moodar mostrou que a terapia online tem sido bem aceita:
“Quando a transportadora oferece terapia online acessível, a plataforma também mostra o nível de engajamento de motoristas com as consultas, permitindo identificar quando é necessário incentivar ou oferecer algum apoio extra. Em resumo, é transformar algo que antes era completamente invisível, o estado emocional do caminhoneiro, em informação clara para orientar decisões de cuidado, prevenção de acidentes e promoção de segurança".
Alan Medeiros, da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos, defende iniciativas desse tipo. Ele lembrou que durante a pandemia, por exemplo, a CNTA disponibilizou psicólogos.
Uma pesquisa recente da confederação, com mais de dois mil caminhoneiros, mostrou, segundo Medeiros, que quem vive na estrada está disposto a ser ouvido:
“Há uma disponibilidade e uma disposição muito grande para conversar, para querer expor os problemas que existem da profissão, para expor as carências, as dores do caminhoneiro do dia a dia. Então é extremamente importante que esse caminhoneiro tenha esse contato, essa forma de buscar esse convívio familiar, por mais que às vezes está tão distante, mas que ele possa ter formas de se comunicar com a família".
A Polícia Rodoviária Federal se preocupa com a qualificação dos policiais como conta Jefferson Almeida de Moraes, coordenador de Segurança Viária:
“A questão da saúde mental, ela é bem preocupante para nós, porque numa interação ali, com o policial, com um fiscalizado, que não está bem emocionalmente, é uma situação muito delicada".
Emerson André, caminhoneiro conhecido como “O Facebook”, diz que mesmo sendo muito desgastante, uma das vantagens da profissão é conhecer pessoas.
“Tem muita coisa boa da profissão, né? Conhecer os amigos, fazer novas amizades. Você parar nos restaurantes, postos de combustíveis, falar com os frentistas, ajudar... Mas ela é bastante desgastante”.
Além de iniciativas adotadas por empresas, outras, como o “Comandos da Saúde”, do SEST/SENAT, em parceria com a PRF, já focam na saúde mental dos profissionais.
A Abrapsit,Associação Brasileira de Psicologia do Tráfego, disponibiliza psicólogos especializados para o acolhimento de condutores.
O SUS também oferece atendimento a pessoas com transtornos mentais, incluindo caminhoneiros que precisem de ajuda.
*Com produção de Luciene Cruz
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