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Ostras e ostracismo midiático no esporte  -  por: Alexandre Lyra*  

O governo de Goiás está investindo cerca de 50 milhões de reais na adequação do autódromo do Estado às normas internacionais e o país

Por Alexandre Lyra • Política

10/11/2025 às 07:47

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Imagem Estádio Municipal,

Estádio Municipal, "O Marizão" ‧ Foto: divulgação

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No próximo ano vão voltar a ser disputadas no Brasil corridas das três principais categorias do campeonato mundial de motociclismo. Poucos sabem disso porque o motociclismo como esporte, em geral, não tem tradição no Brasil. O governo de Goiás está investindo cerca de 50 milhões de reais na adequação do autódromo do Estado às normas internacionais e o país vai ter novamente corridas de motocicleta 20 anos depois da última realizada por essas bandas. Vale a pena todo esse investimento, que poderia ir para áreas diversas mais fundamentais? Essa é uma pergunta válida para países periféricos, mesmo os de desenvolvimento intermediário como o Brasil, pois além de exigir um volume de investimento significativo, há os descaminhos no processo.

Com o tempo, algumas categorias profissionais dos esportes têm atraído cada vez mais investimentos, cercando de negócios o mundo esportivo.  Negócios muitas vezes escusos, como foi o caso da FIFA recentemente. É triste comparar os gastos locais na última copa realizada aqui com gastos de outros países, quando nós, relativamente pobres, deveríamos valorizar mais cada centavo gasto, mas sabemos que o problema é histórico e a área dos esportes é apenas mais uma entre tantas em que recursos públicos não são maximizados e acabam escapando para tradicionais bolsos privados.

Cifras astronômicas passaram a circular nas principais modalidades do mundo para proporcionar maior conforto, segurança aos pagantes nos estádios e produtos fora deles, retornando mais lucros aos investidores. Os negócios foram diversificados, expandindo a circulação do dinheiro no meio e o mercado dos atletas profissionais foi inflado em alguns dígitos, o que é bom porque gerou melhor renda para vários atletas, mas alguns passaram a faturar milhões anualmente, ficando milionários apenas por fazer com excelência algo simples e relacionado ao entretenimento. Por um lado, o aumento do salário médio dos atletas corrige uma injustiça histórica, pois 50 anos atrás eram poucos os profissionais do esporte que chegavam à velhice com padrão de vida razoável, mas por outro, são questionáveis as super remunerações conferidas a uns poucos esportistas, apesar de especialistas da área acharem justo pelos negócios que giram ao redor dele (atraindo patrocinadores diversos). Em verdade, esses valores saltam para o universo especulativo e, além disso, no caso do futebol brasileiro, a maioria dos clubes, por exemplo, administra grandes dívidas...

Podemos ver pela internet como eram relativamente amadores os eventos esportivos décadas atrás, com menos patrocinadores e valores envolvidos como no mercado em geral. Basta ver as quase imaculadas camisas dos jogadores de futebol ou as corridas de formula 1 50 anos atrás, quando a circulação de pessoas pelos boxes era bem mais confusa e os mecânicos trabalhavam só de calção quando estavam em países quentes. Podíamos perguntar até que ponto ainda há competição entre esportistas nas categorias profissionais na atualidade, tal o volume do capital envolvido, pois a sensação é de assistirmos a um campeonato entre capitais. Quem coloca mais dinheiro forma a melhor equipe e ganha o torneio.

Se há capital é porque há retorno, e esse é assegurado se o esporte é favorito da população, como é o caso do futebol no Brasil, mas a fórmula 1 mostra como o investimento na área pode fazer um esporte sair da condição de desconhecido do público a um dos preferidos em razão de todo um trabalho da mídia, a partir do momento em que surgiu um nome local que conseguiu furar a bolha e obter um primeiro título (Emerson), passando pela consolidação com um segundo campeão (Piquet), até chegar à transformação de um terceiro campeão em mito (Senna), pela voz de um locutor preparado para construir toda uma imagem. Bingo, temos um novo mercado esportivo.

As corridas de carros e motos também nos mostram que esportes não têm ideologia, já que interessam à direita, como o atual governo de Goiás, e à esquerda, pois foi a gestão de Luíza Erundina que reformou o autódromo de Interlagos e trouxe a F1 de volta a São Paulo, já na onda da popularidade de Senna em !990. Esportes são meritórios, dizem da saúde humana e tem ganhando cada vez mais importância com a valorização do aumento na expectativa de vida, Para além dos negócios privados envolvidos, o Esporte é de interesse público, e como tal não precisa dar lucro, seu estímulo resulta em economia de gastos na área da saúde no médio, longo prazo na economia.

O fato é que o automobilismo se tornou esporte popular no Brasil, e o motociclismo hoje só é de conhecimento de um público seleto de interessados nos bólidos de duas rodas. Quase ninguém por aqui sabe que está surgindo nesse momento um talento nacional, já não mais promissor, um diamante escondido pelo ostracismo midiático. Trata-se de Diogo Moreira, o único brasileiro no meio da predominância de espanhóis e italianos em todas 3 categorias principais. Ano passado ganhou apenas uma corrida na ultra competitiva categoria de entrada (Moto 3), mas sua preciosidade foi reconhecida ao ser promovido para a Moto 2 esse ano, onde se destacou e conseguiu chegar na fase final do campeonato disputando ele com um espanhol (está em vantagem e falta apenas uma corrida). É uma pena que o motociclismo no Brasil seja como uma ostra perdida entre outras numa praia e pérolas fiquem anônimas, uma vez que a veiculação das notícias na grande mídia passe por contratos diversos, restritivos, fazendo passar despercebido o brilho de um filho da terra.

 

* Professor titular do departamento de economia da Universidade federal da Paraíba.

 

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