12/08/2025 às 19:43
A democracia no Brasil e em outos países da América Latina tem enfrentado desafios significativos nas últimas décadas, desde crises institucionais até ameaças ao Estado de Direito. "Qual o grau de resistência e resiliência das democracias modernas contra surtos autocráticos e autoritários?" Esse foi o questionamento inicial do senador Randolfe Rodrigues e ponto de partida do seminário ‘Democracia em perspectiva na América Latina e no Brasil’, realizado nesta terça-feira, no Senado Federal, em Brasília:
“Até o início desse século, parecia existir uma pacificação sobre a existência e o funcionamento da democracia, o padrão de democracia federal. Uma forma definitiva de organização das sociedades. Na década passada, essa realidade começou a mudar. Nós começamos a assistir pelo todo o mundo o surgimento de regimes autocráticos, derrubando democracias até então sólidas. Então, foi o que aconteceu na Venezuela, depois nos Estados Unidos, na Hungria, e, a partir de 2019, no Brasil,” destacou Randolfe
O professor da Universidade Harvard, Steven Levitsky, coautor do best-seller “Como as Democracias Morrem”, fez uma análise dos processos de erosão democrática em diferentes contextos globais, com ênfase na realidade latino-americana e brasileira.
Na avaliação de Levitsky, houve uma mudanças fundamental no padrão de comportamento de líderes populistas, a partir do surgimento e do uso maciço das redes sociais na política.
"Hoje, o Twitter, o Facebook e outras mídias sociais permitem que os candidatos alcancem os eleitores mesmo que sejam ofuscados pela grande mídia. Os políticos de hoje não precisam mais do establishment. Para os políticos, isso é libertador. Eles agora podem responder diretamente aos eleitores. Não precisam se preocupar com o que o establishment pensa. Podem violar normas há muito estabelecidas. Podem construir uma reputação de rebeldes ou de outsiders dispostos a dizer as coisas como elas são. Podem dizer e fazer coisas que antes eram consideradas proibidas. Pense em Trump ou Bolsonaro. Na verdade, os candidatos de hoje podem fazer campanha abertamente contra a elite. Portanto, são livres, libertos para serem populistas."
Segundo Levitsky, a reação brasileira às ameaças durante e depois das eleições de 2022 foi melhor orquestrada e mais forte do que a resposta dada pelos Estados Unidos ao presidente Donald Trump após a tentativa de invasão ao Capitólio em 2021. Ao final, o pesquisador fez reflexões sobre como fortalecer as instituições democráticas diante de desafios contemporâneos:
"Denunciar comportamento violento ou antidemocrático, mesmo quando praticado por seus próprios aliados ideológicos. Significa expulsar autoritários do seu partido. Significa recusar-se a indicar e apoiar candidatos antidemocráticos. E significa estar disposto a trabalhar com seus rivais ideológicos para forjar uma ampla coalizão pró-democracia com o objetivo de isolar e derrotar extremistas autoritários."
Steven Levitsky é professor de ciência política na Universidade Harvard, com foco na América Latina. Sua obra analisa como regimes democráticos podem entrar em colapso não apenas por golpes militares, mas por meio de erosões graduais promovidas por líderes eleitos que minam instituições democráticas por dentro. Ele é conhecido por sua pesquisa sobre democratização, autoritarismo, partidos políticos e instituições fracas e informais, com atenção especial para a América Latina.
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