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Os feridos na guerra tarifária - por: Alexandre Lyra

É importante colocar também que, do ponto de vista dos negócios, a previsibilidade é muito melhor que mudanças intempestivas

Por Alexandre Lyra • Política

14/07/2025 às 16:19

Imagem Exportação, e Importação

Exportação, e Importação ‧ Foto: Divulgação/Porto de Santos

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Dentro de toda complexidade da economia moderna, eis que novamente o presidente norte-americano volta a bater na mesma tecla do tarifaço, agora diretamente ao Brasil, reafirmando sua política explicitamente protecionista e de cunho mercantilista em carta com tom ríspido e posicionamento imperial. Essa segunda investida vem após o término da reunião dos brics, que vem aumentando sua relevância e ameaçando cada vez mais a hegemonia decadente dos EUA. Ainda que o documento cite uma perseguição política (imaginária) a Bolsonaro como mote inicial no documento, a questão é principalmente econômica, consistindo numa reação destemperada à perda de competitividade produtiva frente a outros países, principalmente aos brics. É uma medida arbitrária que tem, entretanto, uma série de repercussões.

Antes de mais nada é preciso registrar que o Brasil ainda tem números relativamente tímidos de comércio internacional, chegando a percentuais em torno de 15% do PIB, tanto para exportações quanto para importações ( https://pt.theglobaleconomy.com/Brazil/Imports/  ), mas já avançou expressivamente em relação ao fim dos anos 1900. Vários países importantes têm esse indicador maior que nós, inclusive alguns dos maiores PIBs mundiais, mas é interessante lembrar o histórico recente nacional. O Brasil tinha bem menos independência na execução da política cambial e tarifária, pois principalmente entre 1980-1990 dependia de um bom volume de exportações para gerar divisas necessárias aos pagamentos de compromissos financeiros altos com bancos estrangeiros. Era uma fase em que a dívida externa era sufocante, mas faz quase 15 anos que a dívida externa foi reduzida a uma insignificância e a interna começou a elevar. 

Resolvido o problema da dívida externa, os governos brasileiros não mais restringem, ou mesmo proíbem importações, para gerar superávit, o que fez subir as importações e diminuir muito os superávits, mas as tarifas praticadas pelo país não mudaram muito de uma forma geral. Com os EUA, por exemplo, o saldo tem empatado, sendo as vezes ligeiramente negativo, como foi no último ano, mas a questão é que era para esse país que o Brasil mais importava e exportava, tendo perdido esse espaço ao longo dos anos para os países da união europeia e também para a China, que disparou na liderança. Para completar, corre o risco de perder terreno no médio prazo também para outros países que despontam na produção mundial, como a Índia, aliada nos brics que vem em escalada acelerada recente, passando para a quarta posição entre as maiores economias do globo ( https://www.instagram.com/p/DKNN6oJONbV/ ).

A retórica de Trump, portanto, é falsa, ele poderia falar diretamente da alta taxação das importações brasileiras, que de fato, são, na média, bem maiores que as maioria dos países ocidentais mais desenvolvidos. Como expliquei, trata-se de uma herança da época que precisávamos delas, mas o país ainda não reviu esses percentuais por causa da relativa fragilidade de nossa estrutura econômica. Da forma como está temos um pequeno superávit com o resto do mundo, se elas forem reduzidas, provavelmente perderemos essa migalha e passaremos para déficits não desprezíveis. A política externa está diretamente conectada com políticas industriais, de estímulo à tecnologia, e com as políticas monetárias, que delimitam as taxas de juros e outras variáveis.

É importante colocar também que, do ponto de vista dos negócios, a previsibilidade é muito melhor que mudanças intempestivas. Com rompantes como esse, se efetivamente adotado, podemos perder mercado para os EUA, mas eles também perdem em alguma medida, nem que seja em elevação da inflação, pois se compram aqui comodities é porque temos o preço mais competitivo, e terão de recorrer a produtores de outros lugares que têm preços superiores, sem falar do impacto do tarifaço imposto pelos EUA a outros países. No Brasil, internamente, os mais afetados são os estados maiores exportadores, SP, RJ e MG, os Estados de maior PIB, todos governados por políticos de inclinação liberal/neofascista que adulam o ‘liberalismo’ norte-americano, acirrando o conflito interno dessa facção política.

Mandeville formulou uma fábula com abelhas para falar do comportamento agressivo do ser humano no mercado... parece que na atualidade certos mandatários autoritários andaram ‘mexendo no vespeiro’ para ver o vai dar. Não se sai sem algumas picadas dessas aventuras, quando menos, porque as consequências podem ser piores. 
 
* Professor titular do departamento de economia da Universidade federal da Paraíba.
 

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