
14/11/2025 às 08:46
O governo chinês decidiu não aportar recursos no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), principal iniciativa apresentada pelo Brasil na Cúpula de Líderes da COP30, em Belém. A recusa de Pequim — terceiro maior parceiro político do governo Lula — representa um revés significativo para a estratégia brasileira de ampliar o financiamento internacional voltado à preservação ambiental.
Fontes diplomáticas chinesas afirmam que o país mantém a posição histórica de que a responsabilidade financeira pelo combate às mudanças climáticas deve recair sobre nações desenvolvidas, e não sobre economias emergentes. O argumento segue o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, adotado desde a Rio-92 e usado pela China para justificar a ausência em fundos multilaterais, como ocorreu anteriormente com o Fundo Verde para o Clima.
Mesmo sendo o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, a China sustenta que países industrializados devem liderar iniciativas financeiras globais, enquanto economias em desenvolvimento devem priorizar políticas internas de mitigação e adaptação.
A dificuldade diplomática brasileira não se limita aos chineses. Estados Unidos, Reino Unido e Espanha também optaram por não contribuir com o TFFF, em um cenário que contrasta com o discurso brasileiro de liderança climática e articulação internacional. A Alemanha é o único país que sinalizou interesse em uma contribuição “considerável”, mas sem valores ou prazos definidos.
Até agora, o fundo acumula apenas US$ 5,6 bilhões — montante muito inferior aos US$ 125 bilhões previstos para sua operacionalização completa.
Apesar da recusa financeira, a China é um dos 53 países que assinaram a declaração de apoio político ao fundo. Dentro do governo Lula, auxiliares afirmam que Pequim enviou “bons sinais” em encontros bilaterais, embora não tenha feito qualquer compromisso concreto.
Na prática, o Brasil enfrenta o desafio de transformar apoio diplomático em aportes reais — algo que, até aqui, não aconteceu.
Lançado em 6 de novembro, o TFFF prevê pagamentos de R$ 21,12 por hectare preservado, mas o mecanismo só será ativado quando o fundo atingir capitalização integral. O Banco Mundial atuará como gestor inicial, e pelo menos 20% dos recursos deverão ser destinados a povos indígenas e comunidades tradicionais.
A expectativa do governo federal era alcançar R$ 52,8 bilhões já em 2025, meta que agora parece distante. Países como Japão, Holanda e Canadá ainda não manifestaram posição, e nenhum banco multilateral confirmou participação. No setor privado, apenas a Minderoo Foundation, do bilionário australiano Andrew Forrest, anunciou aporte de US$ 10 milhões.
A negativa chinesa tem peso simbólico e prático. Enfraquece o discurso de Lula sobre liderança internacional na área ambiental e revela limites da articulação diplomática brasileira diante das grandes potências.
Além disso, evidencia um problema estrutural: a dependência do Brasil de países que, mesmo alinhados politicamente ao governo, não estão dispostos a assumir compromissos financeiros de longo prazo — especialmente em temas climáticos envolvendo a Amazônia.
Enquanto tenta ampliar a credibilidade ambiental do país, o governo Lula agora precisa reposicionar sua estratégia de captação internacional, sob risco de ver a principal vitrine da COP30 perder tração política antes mesmo de entrar em operação.
Fonte: hora brasilia
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