06/05/2025 às 09:02
O ano de 2025 sinaliza um agravamento do endividamento das famílias brasileiras, impulsionado por uma combinação tóxica de juros elevados, inflação persistente, baixo crescimento da renda e falta de educação financeira. A previsão da Confederação Nacional do Comércio (CNC) de que 77,5% das famílias estarão endividadas até o final do ano acende um alerta crítico sobre a sustentabilidade da vida financeira da população.
O que está por trás desse cenário?
O aumento do endividamento não é um fenômeno isolado, mas resultado de uma conjuntura econômica desfavorável. Dados recentes do Banco Central apontam que o comprometimento da renda com dívidas subiu de 27,0% para 27,3% entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025. Ao mesmo tempo, o endividamento geral das famílias com o sistema financeiro também avançou para 48,7%.
Apesar do reajuste do salário mínimo para R$ 1.518,00, o ganho real é insuficiente para conter o avanço do custo de vida. A inflação corroeu o poder de compra das famílias, sobretudo das mais vulneráveis, que são também as que mais dependem do crédito para sobreviver. Com o crédito rotativo ultrapassando os 43% ao ano, muitos brasileiros se veem presos em uma espiral de dívidas.
O uso do cartão de crédito, aliado ao consumo impulsivo e à falta de planejamento, agrava a situação. Compras parceladas se acumulam com empréstimos, enquanto a renda estagnada não acompanha o aumento do custo das dívidas. A inadimplência, embora com sinais pontuais de queda, ainda atinge 41,5% da população adulta — quase 69 milhões de brasileiros negativados.
Quais as consequências?
A escalada do endividamento tem implicações graves não apenas para as famílias, mas também para a economia como um todo. O alto nível de compromissos financeiros reduz a capacidade de consumo, freia a recuperação econômica e pressiona ainda mais os serviços sociais e os programas de renegociação de dívidas.
Além disso, o aumento das dívidas prejudica o crédito no mercado e gera insegurança nos lares, criando um ciclo vicioso que impacta diretamente o bem-estar psicológico e emocional das pessoas.
Qual a saída?
A resposta para esse cenário exige medidas em diversas frentes:
. Educação financeira desde cedo: incentivar o ensino de planejamento financeiro nas escolas e em políticas públicas de capacitação.
. Revisão das taxas de juros abusivas: mesmo com a Selic em patamar elevado, a discrepância entre o custo de captação dos bancos e os juros cobrados ao consumidor final é alarmante.
. Programas de renegociação com estímulos reais: permitir que endividados consigam condições viáveis de quitar suas dívidas sem cair novamente no ciclo do crédito rotativo.
. Ampliação da renda real e políticas de incentivo ao emprego: sem crescimento na renda e estabilidade no emprego, qualquer alívio será temporário.
O endividamento das famílias brasileiras é reflexo de uma economia que ainda não voltou a respirar plenamente e de um sistema de crédito que privilegia o lucro acima da estabilidade social. Ignorar esse alerta pode levar o país a um aprofundamento das desigualdades e ao comprometimento das perspectivas de crescimento sustentável.
Fonte: Repórter PB
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