09/07/2025 às 13:10
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, revelou nesta semana um plano de estabelecer uma zona onde ficam as ruínas de Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza, para receber a população palestina. As autoridades israelenses estimam, inicialmente, 600 mil palestinos da região costeira deslocados pelo exército. As informações são da imprensa de Israel.
O ministro israelense disse que os palestinos seriam submetidos a uma triagem para garantir que não sejam membros do Hamas e que não teriam permissão para sair de lá. A área seria cercada militarmente por Israel e Katz afirmou que toda a população civil de Gaza, mais de 2 milhões de pessoas, seria transferida para o que chamou de “cidade humanitária”.
O plano atraiu a atenção da mídia. Na terça-feira (8), um porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, declarou que a proposta de transferência forçada causa sérias preocupações, entre outras razões, pela possibilidade de mortes decorrentes da força utilizada e do confinamento das pessoas. O presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Ualid Rabah, comparou o projeto a um “campo de concentração”.
"Esse campo de concentração vai estar cercado belicamente, então ele será um campo de concentração 100%, em que a ração humana será coordenada pela ocupação e será administrada a vida dessa população para a transferência compulsória. Então nós estamos agora na fase final, portanto, da solução final por meio do campo de concentração".
De acordo com o professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, Kai Lehmann, a iniciativa de Israel é completamente ilegal à luz do direito internacional. Mas a ideia tem apoio político dentro de Israel e reflete ações que vêm sendo executadas há décadas na Cisjordânia.
"Não há previsão nas leis internacionais para um deslocamento forçado de uma população, então seria ilegal. Isso não quer dizer que não vai acontecer, porque estamos vendo isso há décadas na na Cisjordânia, por exemplo, construção de colônias israelenses no território palestino. Há vontade por parte da elite política israelense de fazer uma coisa dessa, com certeza".
A proposta de expulsão da população palestina conta com o apoio do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que declarou, após jantar com Donald Trump na Casa Branca na segunda-feira (7), que Israel está trabalhando “em colaboração com os Estados Unidos para encontrar países dispostos a receber os palestinos”, o que chamou de “um futuro melhor”.
Segundo o professor de Relações Internacionais Kai Lehmann, essa é mais uma etapa do projeto de refazer a ordem geopolítica do Oriente Médio, lembrando a continuidade das ocupações na Cisjordânia.
"Que a gente está vendo na Cisjordânia é um processo planejado de limpeza étnica, que acelerou desde os atentados terroristas do 7 de outubro. O que a gente está vendo é uma tentativa de desfazer o Oriente Médio. E esse processo vai durar ainda, eu acho que a gente não está perto do fim".
A ONU divulgou nesta quarta-feira (9) um mapa com o deslocamento forçado já realizado pelos palestinos. Segundo a porta-voz, falta infraestrutura e serviços básicos. Na segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde pediu proteção para o Complexo Médico Al-Nasser, em Khan Yunis, que opera com o dobro de sua capacidade, em meio a escassez de material de atendimento, medicamentos, equipamentos e combustível. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 57 mil palestinos morreram desde o início da guerra entre Israel e o Hamas.
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