01/07/2025 às 07:15
Nem todo mundo se comunica da mesma forma. Para pessoas que não falam, seja por uma deficiência, atraso no desenvolvimento ou outra condição, a comunicação oral pode não ser uma opção. Nesses casos, a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) é uma ferramenta essencial para garantir o direito básico à expressão e à participação social.
A CAA reúne estratégias e recursos que auxiliam na comunicação de pessoas com dificuldades severas de fala e escrita. Esses recursos vão desde expressões faciais e gestos até tecnologias com voz sintetizada e pranchas de imagens e símbolos. A prática é reconhecida internacionalmente como parte da tecnologia assistiva e pode ser usada tanto em casa quanto em ambientes educacionais e clínicos.
Esse é o tema do episódio da semana do podcast VideBula.
A ativista Andreia Medrado, mãe de uma menina não falante, conheceu o sistema há três anos. Ela explica que é possível começar a prática com materiais simples e indica o banco de imagens gratuito Arasaac para auxiliar na adaptação.
“A gente pode montar uma prancha com palavras essenciais, como ‘oi’, ‘tchau’, ‘sim’, ‘não’, ‘comer’, ‘beber’. São ações que a gente faz toda hora, são pedidos que a gente faz toda hora”, orienta.
A professora Stefhanny Nascimento Lobo e Silva, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, destaca que a comunicação está no centro da inclusão.
“Quando o indivíduo apresenta grande dificuldade para falar ou escrever, é importante recorrer a qualquer recurso ou estratégia que possa ajudar essa pessoa a se expressar.”
Ela coordenou a instalação de uma prancha de comunicação visual no campus de Seropédica, feita com estrutura de bambu e símbolos visuais.
Apesar de estar prevista na Lei Brasileira de Inclusão, a CAA ainda enfrenta barreiras, como a falta de formação docente.
“Muitos professores desconhecem recursos simples, de baixa tecnologia, que fazem toda a diferença na participação de um aluno com deficiência em sala de aula”, afirma Stefhanny.
A ativista Andreia reforça que a escola tem papel fundamental.
“A comunicação aumentativa e alternativa não é mágica. É como se fosse uma língua nova. A gente precisa de bons parceiros de comunicação e precisa treinar em todos os ambientes.”
O VideBula vai ao ar todas as terças-feiras, no site da Radioagência Nacional e nas principais plataformas de áudio.
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Você pode conferir, no menu abaixo, a transcrição do episódio, a tradução em Libras e ouvir o podcast no Spotify, além de checar toda a equipe que fez esse conteúdo chegar até você.
VideBula - Episódio 13: Comunicação Aumentativa e Alternativa
🎵 [TRILHA DE ABERTURA – música suave e acolhedora]🎵
Pati: Oi, eu sou a Patrícia Serrão.
Raíssa: E eu sou a Raíssa Saraiva.
Pati: E esse é o VideBula, seu podcast sobre saúde, bem-estar e os caminhos possíveis para uma vida mais inclusiva.
Raíssa: A comunicação é um direito básico. Mas, às vezes, pode ser um básico difícil de ser implantado no dia a dia.
Pati: Já parou para pensar como pessoas não falantes se comunicam? Para os surdos, existe a Libras, ou a leitura labial. Mas e aqueles que não conseguem gesticular?
Raíssa: Hoje vamos falar sobre Comunicação Aumentativa e Alternativa, a CAA. Um recurso que amplia as formas de expressão de pessoas com deficiência, atrasos na fala ou que, por qualquer motivo, não se comunicam verbalmente.
🎵 [SOM DE TRANSIÇÃO – efeito sonoro suave]🎵
Pati: Para entender melhor, conversamos com duas especialistas na área.
Raíssa: Andreia Medrado, mãe atípica e ativista em defesa da educação inclusiva, e Stefhanny Lobo e Silva, professora doutora adjunta do Departamento de Educação e Sociedade da UFRRJ, com foco em Educação Especial.
Pati: Andreia, como você conheceu a Comunicação Aumentativa e Alternativa?
Andreia: Eu conheci há 3 anos atrás, porque eu sou mãe de duas meninas e a minha caçula é uma pessoa com deficiência e ela é uma pessoa não falante. Então, eu comecei em busca de formas que pudessem ajudá-la a ampliar a sua comunicação. E foi quando eu conheci a comunicação aumentativa e alternativa e a gente iniciou essa caminhada e esse processo de aprendizagem.
Pati: Stefhanny, você pode explicar o que é essa forma de comunicação?
Stefhanny: Antes de conceituar a comunicação aumentativa e alternativa, é importante destacar que a comunicação ou a falta dela tem um impacto profundo no desenvolvimento, na independência, no aprendizado, enfim, na inclusão das pessoas. Então, quando o indivíduo apresenta grande dificuldade para falar ou escrever, é importante recorrer a qualquer recurso ou estratégia que possa ajudar essa pessoa a se expressar. É justamente onde entra no contexto da comunicação aumentativa e alternativa, que é uma área interdisciplinar de prática e pesquisa, com atuação clínica e educacional, que serve como área no campo da tecnologia assistiva, abarcando tanto estratégias como recursos e serviços que visam promover autonomia, independência, a maior participação de pessoas com deficiência em relação à linguagem. A comunicação aumentativa e alternativa pode incluir desde gestos, expressões faciais e corporais, até o uso de desenhos gráficos, como fotos, gravuras, desenhos, objetos de miniaturas, tecnologias com voz digitalizada ou sintetizada, que transforma texto em fala. Então, a gente tem um exemplo, que eu acho que algumas pessoas conhecem, do pesquisador Stephen Hawking, que utilizava ali uma forma de comunicação aumentativa e alternativa de alta tecnologia para poder se comunicar. Então, ele tinha a sua voz sintetizada para poder realizar algumas palestras.
Raíssa: E na universidade, como isso funciona?
Stefhanny: A Universidade Federal Rural de Janeiro não é a única que usa, existem diversos estudos em universidades, em diferentes contextos como na escola, como na saúde, na clínica. Recentemente a gente realizou um projeto de pesquisa de implementação de placa, de prancha de comunicação aumentativa e alternativa, com o objetivo ali de tornar acessível os ambientes universitários. Então implementamos essa placa na Semana Rural, que é um projeto de extensão acadêmico e científico da instituição que atrai inúmeros visitantes todos os anos. Essa prancha tem 1,5m de largura e 1m de altura, e respeita, como a gente tá no contexto da Universidade Federal Rural, no campus de Seropédica, especificamente, ela tem uma estrutura ali de bambu. Na frente dela, colocamos alguns símbolos visuais, com símbolos gráficos, com nome oi, tchau, imagens contendo animais, sempre colocando o vocabulário, um código e a imagem embaixo. Na parte de trás, a gente colocou algumas orientações, como que a pessoa poderia utilizar, não só a pessoa com necessidade completa de comunicação, mas também outras pessoas, porque a gente entende que a comunicação é para todas as pessoas, então, tinha: “para se comunicar, você pode apontar para essa imagem”.
Pati: Andreia, como podemos ajudar uma pessoa não falante a começar a usar a comunicação aumentativa e alternativa?
Andreia: A gente pode pensar em primeiramente no alfabeto, né? A gente pode imprimir um alfabeto e os números numa folha A4 e emplastificar. Uma outra coisa que a gente pode fazer: nós temos um banco de dados de figuras e imagens, ele chama Arasaac, e aí nesse banco de dados, existem várias figuras, imagens que elas vão ali, simbolizar ações, sentimentos, palavras de uma forma geral. Então, o primeiro passo é a gente pensar em palavras usuais do nosso dia a dia, como por exemplo: oi, tchau, quero, não, sim, comer, beber, abrir, fechar. Tudo isso tá muito parte do nosso dia a dia, né? Assim, são ações que a gente faz a toda hora, são pedidos que a gente faz toda hora. O não e o sim são importantes, principalmente para as pessoas não falantes, né? Porque são palavras que vão ali direcionar “eu quero fazer isso, eu não quero fazer isso”. Então é montar essa prancha com essas palavras essenciais. É o primeiro passo.
Raíssa: E na escola, qual é o papel da acessibilidade comunicacional?
Andreia: Então, a escola tem um papel fundamental, inclusive porque já consta na Lei Brasileira de Inclusão que as escolas precisam ofertar, pros estudantes que precisam, a comunicação aumentativa e alternativa. E existem meios, não só meios de alta tecnologia, porque realmente não são acessíveis para todo mundo, mas a gente tem também formas alternativas de se comunicar que são de baixo custo, e assim você vai oportunizar para esses estudantes formas alternativas de se comunicar. Claro que é preciso um treino, porque a comunicação aumentativa e alternativa, ela não é mágica. É como se fosse uma língua nova, né? Então a gente precisa ter bons parceiros de comunicação e a gente precisa treinar em todos os ambientes.
Pati: Stefhanny, quais barreiras os estudantes que usam essa comunicação ainda enfrentam na universidade?
Stefhanny: Uma das grandes dificuldades, e tem uma literatura vasta trazendo isso, é que alguns professores, aí eu falo tanto da educação básica como do ensino superior, desconhecem que existem recursos, principalmente de baixa tecnologia, que são simples e muito potentes, que podem ser usados no dia a dia em sala de aula. Muitas vezes, uma prancha de comunicação feita com papel ou até um objeto concreto, faz toda a diferença, na participação e na aprendizagem de um aluno com deficiência, que apresenta uma necessidade de comunicação. Por isso é que é importante a gente investir na formação tanto inicial quanto continuada de diferentes atores, e conseguir, já desde a formação inicial, fazer algumas práticas com jovens estudantes e isso permite que eles possam entender diferentes contextos, que eles estejam mais preparados para lidar com pessoas, no contexto de comunicação, quando eles forem atuar.
Raíssa: Existe algum suporte do SUS ou do Ministério da Educação para essas tecnologias?
Stefhanny: Dentro do SUS, especialmente nos centros especializados de reabilitação, existe sim a proposta de atendimento às pessoas com deficiência e que necessitam da comunicação aumentativa e alternativa. Durante o período da pandemia da covid-19, por exemplo, alguns hospitais públicos passaram a utilizar a prancha de comunicação aumentativa e alternativa em unidades de terapia intensiva, nas UTIs, e era uma forma de garantir a comunicação para pacientes que estavam entubados. Atualmente, há manuais com diretrizes específicas voltadas ao uso da comunicação aumentativa e alternativa para pessoas com diferentes condições, como pessoas ali com afasia, traumatismo crânio encefálico, paralisia cerebral, autismo, enfim, síndromes causadas por vírus, entre outros. Só que assim, no entanto, ainda não há uma concepção de equipamentos de comunicação aumentativa e alternativa pelo SUS, como, por exemplo, dispositivos com comando de voz, softwares específicos. É necessário realizar um Programa Nacional de Comunicação Aumentativa e Alternativa dentro do SUS, para que a gente não só garanta o acesso a essas tecnologias, a esses recursos, mas também o direito de se comunicar de uma forma mais estruturada e permanente.
🎵 [SOM DE TRANSIÇÃO – efeito sonoro suave]🎵
Raíssa: Esse foi mais um VideBula, produção original da Radioagência Nacional, serviço público de mídia da EBC, a Empresa Brasil de Comunicação.
Pati: O podcast é idealizado e apresentado por mim, Patrícia Serrão, e por Raíssa Saraiva. A edição é de Bia Arcoverde.
Raíssa: Na operação em Brasília, Graciara Farias. E no áudio e sonoplastia no Rio, Toni Godoy. Quer falar com a gente? Mande seu recado para [email protected]. Adoramos saber o que vocês estão achando do podcast.
Pati: E já sabe: mande esse episódio para os amigos, publique nas suas redes sociais e faça a informação chegar longe! Para mais informações, VideBula! Até o próximo!
🎵 [SOM DE ENCERRAMENTO – música animada]🎵
Roteiro, entrevistas e apresentação | Patrícia Serrão e Raissa Saraiva |
Coordenação de processos e supervisão | Beatriz Arcoverde |
Identidade visual e design: | Caroline Ramos |
Interpretação em Libras: | Equipe EBC |
Implementação na Web: | Beatriz Arcoverde e Lincoln Araújo |
Operação de Áudio e sonoplastia no RJ | Toni Godoy |
Operação de Áudio em Brasília | Graciara Farias |
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