19/05/2025 às 09:04
A Campanha Maio Laranja, dedicada ao alerta contra abusos sexuais e assédio a crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis, coloca em debate situações delicadas, dolorosas e urgentes!
Nossa personagem Carla é uma das vítimas desses crimes, na maioria das vezes silenciados. O nome fictício, é de uma mulher autista, que pediu para não ter a identidade revelada. Sem esconder a dificuldade que tem para falar do assunto, ela conta que já passou por diversas situações de abuso desde a infância.
"Passei por mais de dez situações desde a infância, e não é exagero. A cada vez, só conseguia digerir depois, em períodos de reclusão e depressão, tentando me preparar para não viver aquilo novamente".
No depoimento à nossa equipe, Carla revelou o caso mais grave que sofreu:
"A situação mais traumática foi o estupro cometido por um homem de cerca de 40 anos, amigo de uma conhecida minha. Fui muito clara sobre meus limites. E ele disse que me respeitava. Acreditei, porque levei a palavra dele ao pé da letra. Mas ao aceitar um convite para jantar em sua casa, fui surpreendida e o pior aconteceu".
O tema da violência sexual contra meninas e mulheres autistas ganhou destaque quando a modelo inglesa Christine McGuinness, diagnosticada com autismo, relatou ter sofrido abusos dos 9 aos 11 anos, e ter sido estuprada aos 14.
A psiquiatra Claudia Paola Aguilar, que acumula experiência em atendimentos destes casos, explica os riscos da violência contra pessoas autistas:
"As pessoas no espectro autista têm um risco maior de sofrer violência sexual em comparação com a população em geral. Tem estudos mostrando que até 90% das mulheres autistas podem ter sido vítimas de algum tipo de violência sexual ao longo da vida".
A especialista acredita que as características do autismo acabam colaborando para o silenciamento:
"Faz parte do transtorno do espectro autista essa dificuldade na comunicação, tanto na questão de entender a comunicação do outro, uma leitura do verbal e do não verbal, das intenções da outra pessoa com relação a ela, quanto para interpretar que houve uma violência, de que aquilo é uma violência sexual, quanto para denunciar".
Ainda de acordo com a psiquiatra Claudia Paola Aguilar, o primeiro passo é não expor a vítima em caso de suspeita de violência sexual contra a pessoa autista.
"Quando a gente suspeita que uma pessoa no espectro autista, uma criança ou até um adulto, tenha sido vítima de alguma violência sexual, o importante é que a gente não exponha demais essa criança ou essa pessoa no espectro, fazendo com que ela conte muitas vezes o que aconteceu".
Segundo o Atlas da Violência 2024, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada com a colaboração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a violência sexual ficou em terceiro lugar entre as notificações de violência contra pessoas que têm deficiência, com 23% dos casos. A violência física foi a mais relatada, com 55% dos registros, e a psicológica veio em seguida, quase 32% das notificações.
Entre os canais de denúncia para esse tipo de crime estão o Disque 100, Delegacias e Ministério Público.
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