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acordo de paz

“Paz sem voz, não é paz, é medo”  - por: Alexandre Lyra*

O ataque do hamas pegou Israel de surpresa, algo inimaginável, uma vez que Israel vende sua inteligência militar como a perfeição, deixando cerca de 1.200 pessoas mortas e 250 reféns

Por Alexandre Lyra • Política

13/10/2025 às 10:13

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Imagem acordo de paz entre israel e hamas apos 2 anos de guerra destaque 1 Bandeiras do Israel e da Palestina (Public Domain Pictures)

acordo de paz entre israel e hamas apos 2 anos de guerra destaque 1 Bandeiras do Israel e da Palestina (Public Domain Pictures) ‧ Foto: Divulgação

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Foi fechado um acordo para dar fim ao massacre na faixa de gaza. O presidente dos Estados Unidos da América fez a proposta e as partes aceitaram os termos com pequenos ajustes, porque não havia margem para mudanças maiores. Como de costume, o fez com uma linguagem ríspida, de seu meio de negócios. Em outras palavras, propôs às partes ‘pegar ou largar’ a proposta. No caso, se referia apenas a uma parte, o hamas, já que, obviamente, o grande parceiro histórico de Israel não sugeriria algo que viesse nem de longe prejudicar o lado judeu. Trump disse ( https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/10/05/plano-de-paz-para-gaza-e-otimo-acordo-para-israel-paises-arabes-e-o-mundo-diz-trump.ghtml  ) que o hamas “será 'completamente obliterado' se não entregar o poder em Gaza no pós-guerra”, ou seja, caso não haja aceitação do acordo, os EUA se juntariam a Israel para mais massacre numa busca frenética por todos integrantes do grupo organizado palestino, já que inevitavelmente vários civis seriam mortos, como tem sido desde o sequestro ocorrido em outubro de 2023.
         
O ataque do hamas pegou Israel de surpresa, algo inimaginável, uma vez que Israel vende sua inteligência militar como a perfeição, deixando cerca de 1.200 pessoas mortas e 250 reféns. Trata-se de evento lastimável, porém temos que lembrar que isso foi uma resposta a séculos de acordos descumpridos por parte de Israel, que avançou recorrentemente nos espaços palestinos às custas de milhares de mortos no percurso. Só na vingança pela invasão, Israel matou quase 70 mil mortos e deixou cerca de 170 mil feridos entre os palestinos. É a face mais obscura do ser humano se mostrando sem vergonha para o mundo, que afinal vira as costas, se retira da sala e deixa o primeiro ministro responsável pela carnificina falando quase só no encontro da ONU desse ano. O sionismo não tem o apoio de todos judeus, mas tem dos EUA, a maior potência bélica do planeta, nesse momento comandada por outro extremista pouco afeito a ritos democráticos.
         
Um acordo de paz na boca de um liberal radical sempre parecerá um texto fora do lugar, mas quando diz que quer transformar a faixa de Gaza numa ‘Riviera do oriente médio’, aí sim percebemos que ele fala com seu coração de gelo e seus olhos brilham de alegria. Trump quer ganhar dinheiro e só, não entende a essência de lutas de povos por um território para a construção da nação. O povo palestino estava lá e tem de ser ouvido e considerado. Como está, essa paz atende aos interesses do Estado de Israel e do capital norte americano, particularmente o imobiliário, setor de Trump, e às suas conveniências, já que foi oportunamente proposto só depois da devastação de todas construções existentes, além da eliminação sumária de milhares de homens, mulheres e crianças. Não poderia ser antes, tinha que esperar pela crueldade. Agora os palestinos podem voltar para seus... escombros.
         
Sempre defenderei o diálogo, o entendimento. Já passamos por muitas guerras e sabemos do que se trata. Na idade antiga e média se tratava de expansão de civilizações às custas de outras, na busca de mais recursos, quando muitos desses ainda eram escassos. Com a idade moderna, se invoca a defesa da liberdade, mas já está provado que isso é apenas desculpa esfarrapada para continuar prosseguindo na busca por mais recursos estratégicos, particularmente petróleo, até os dias de hoje, e minerais raros a partir de agora. Sempre se trata de abuso de poder político, econômico e militar. É uma lástima ainda estarmos sendo regidos por essas sombras, dias mais humanos são outra coisa muito diferente.
 
* Professor titular do departamento de economia da Universidade federal da Paraíba.

* “Paz sem voz, não é paz, é medo”   - Grupo Rappa
 

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