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Os movediços negócios veterinários   - por: Alexandre Lyra*

A própria classe média, em seus segmentos inferiores faz sacrifícios frente aos custos astronômicos de remédios e exames solicitados pelos veterinários

Por Alexandre Lyra • Política

12/08/2025 às 15:31

Imagem Laboratório de exames

Laboratório de exames ‧ Foto: divulgação

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A quantidade de animais de estimação tem crescido no Brasil nas últimas décadas, obrigando a sociedade a pensar sobre as condições de vida desses seres. Com esse aumento, também a medicina veterinária e o mercado de produtos para pets se desenvolveu, melhorando a qualidade dos equipamentos próprios da área, dos tratamentos para enfermidades próprias da área, além da multiplicação da produção de todo um aparato de serviços para o bem-estar felino e canino. O problema é que a parte mais importante da questão, a saúde dos animais, está restrita a poucos afortunados, uma vez que a medicina veterinária tem priorizado o atendimento das camadas superiores ao praticar preços e lucros elevados.
         
O problema começa com a repetição da velha relação promíscua dos grandes laboratórios com os profissionais de saúde, e se estende até a falta de clínicas e hospitais públicos para os bichanos. No caso dos animais de estimação, literalmente não há fronteiras, já que o funcionamento de várias clínicas veterinárias ocorre em pet shops, explicitando algo mais sutil no âmbito humano. misturando interesses difíceis de compatibilizar: saúde animal e lucros. Empresários buscam mais lucros, mas a saúde é um mercado específico, não se trata de uma mercadoria comum. Mercadorias comuns se escolhe entre uma ou outra, enquanto a saúde é insubstituível. Nesse tipo de mercado não se deve admitir alto lucro quando se está zelando pela vida.

Mais acima, a concentração da indústria farmacêutica específica garante baixa competitividade e eleva os preços, que se tornam proibitivos para camadas inferiores de renda. Nesse contexto, o atendimento aos tutores se transforma numa máquina de multiplicar dinheiro. Os produtos para pets tem lucratividade dobrada ou triplicada em relação a similares para humanos. A ponta desse mercado, como qualquer outro, tem concorrência e os ganhos são contidos, mas buscam compensar vendendo/empurrando mais produtos desnecessários da indústria, compactuando com os grandes no jogo contra o consumidor. 

Querer ganhar dinheiro é regra, no mercado as pessoas obtém meio de vida via oferta de mercadorias (bens ou serviços), mas infelizmente o mercado tem se caracterizado pela busca da extrapolação dos limites, pelo incentivo ao excesso de lucro, fazendo com que profissionais desvirtuem a moral corrente em busca de mais lucro, revelando maestria na arte de manipular afetos pelos bichos de estimação, para vender suplementos, rações premium, etc., mesmo quando o cliente está preocupado com um problema de saúde específico. A venda dos suplementos pode ser realizada se houver clareza quanto a sua finalidade, pois se desvirtuado pode até adiar procedimentos necessários para a resolução de alguma enfermidade e piorar uma condição de vida. Em mercados ordinários não há essas repercussões, mas na área da saúde, o comércio e o ganho monetário não podem sobrepor o objetivo principal porque as consequências podem ser sérias.

 A própria classe média, em seus segmentos inferiores faz sacrifícios frente aos custos astronômicos de remédios e exames solicitados pelos veterinários, cujo valor das consultas muitas vezes termina sendo a parte mais barata do proibitivo atendimento de saúde animal. Será que só classes mais abastadas têm direito de dar condições adequadas para criação de animais de estimação? É preciso reduzir a influência pesada das grandes empresas farmacêuticas do setor, disseminando os princípios ativos dos remédios. Entre os humanos os princípios ativos foram normatizados a partir da lei dos genéricos, e esses podem ser usados muitas vezes em animais, mas nem todos têm essa informação, e a maioria dos veterinários dificultam sua visibilidade ao não falar disso (e omitir nas receitas).

Os avanços do setor público na área ainda são pequenos frente ao grande número de animais de estimação existente no país. São Paulo foi o pioneiro, Rio de Janeiro e Belo Horizonte seguiram o exemplo, e João Pessoa recentemente teve inaugurado seu primeiro hospital público para pets, e previsivelmente ficou subdimensionado frente às necessidades da população. Como trata-se de um caso de saúde pública, há necessidade da expansão rápida dessa área. Se os influenciadores da área querem realmente fazer algo importante para os pets, diminuindo o assistencialismo e voluntarismo na área, que sobrecarrega alguns poucos, abarquem a criação de clínicas e hospitais públicos para animais de estimação. Essa é a pauta da vez.

Não devemos descuidar das vidas, pelos semelhantes humanos a luta já é antiga, agora incorporemos a ela os animais de estimação que o homem trouxe para seu convívio. Evitemos os sofrimentos físicos e psicológicos de todos, começando com o acolhimento e convívio responsável até chegar na manutenção de condições de vida adequadas, afinal, nenhum ser pediu para nascer e nós somos responsáveis pela reprodução e aumento da população pet. Administremos o crescimento dos pets para viabilizar o tratamento digno aos adquiridos e aos sobreviventes das ruas. É uma questão de interesse público, pois atinge tanto os adeptos quanto os não adeptos da causa animal.
 
* Professor titular do departamento de economia da Universidade federal da Paraíba.

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