
14/12/2025 às 07:30
Este novo episódio do podcast "S.O.S! Terra Chamando!" leva a paciente Terra a um estágio de "fúria", mas o foco da discussão é um risco ainda maior: a extinção humana. Com o título "O Risco da Extinção", o sexto episódio confronta a saúde humana com a deterioração do planeta.

A geóloga Adriana Alves (USP) explica a "Dinâmica de Gaia", alertando que a Terra, embora resiliente a ponto de se recuperar de cinco extinções em massa (como a dos dinossauros), seguirá existindo, mas sem a presença humana. "A espécie humana vai ser a primeira a causar a própria extinção", resume a especialista.
O preço do esgotamento da Terra é sentido diretamente nos corpos. A crise hídrica e a superaquecimento, que causam inundações e secas extremas, elevam os riscos de leptospirose, dengue, desnutrição e fome. O médico infectologista Dr. Eugênio Scannavino Netto relata o impacto direto da crise na Amazônia, onde a seca está gerando surtos de diarreia e desnutrição entre as comunidades ribeirinhas.
O episódio conclui com um apelo à resiliência e à ação imediata do climatologista Carlos Nobre: as novas gerações têm a missão de "reduzir o risco, zerar todas as emissões e tornar a população muito mais resiliente às mudanças climáticas."
Além de conferir aqui na Radioagência Nacional, o podcast está disponível nas principais plataformas de áudio.
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S.O.S! Terra Chamando! - Episódio 6 - O Risco da Extinção
🎵 Abertura 🎵
🎵 Barulho hospital marcador de sinais vitais 🎵
Terra (Georgiana Góes): : É que sei que se adoeço, todo mundo adoece…
Dr. Cruz (Pablo Aguilar): Como assim, todo mundo adoece? O foco é você! Pense em si!
Terra: Eu acho que este não é um bom conselho, Dr. Cruz. Eu posso agir por mim, tá? Mas, as consequências…
Dr. Cruz : Desculpe, não entendi bem… Será que a senhora está delirando? Hum...deixa eu aferir a sua temperatura, Terra!
Terra: Será que o problema é comigo? Eu já sou a toda diferentona! Veja minha vizinhança, por exemplo. Marte, Vênus…?! Temos nada a ver…
Dr. Cruz: Olha aí! Temperatura alta! Já está na hora da medicação…
Terra: Dr. Cruz! O senhor me ouça! O remédio pra essa doença aqui se chama: consciência e atitude já!
🎵 Sobe Som 🎵
Adrielen Alves: Bem que a gente gostaria que fosse apenas um delírio da Terra, né?
Mas, ela está mais lúcida do que nunca! Está atenta à forma como o Antropoceno tem dado ‘’as caras’’. A Terra não é boba nem nada. E tem respondido à altura…
🎵 Barulho de furacões, tornados, enchentes, fúria da natureza 🎵
Adrielen: A Terra,nossa personagem principal, tem apresentado sintomas de esgotamento físico e mental.
Mas, mesmo assim, ela está conectada com quem depende dela. Na novela e na vida real.
Terra: Eu digo e repito: está tudo interligado!!!
Adrielen: E quem depende dela? Quem depende da Terra? Simplesmente: eu, você e todos os seres vivos do planeta. Todos os ecossistemas. Todos nós dependemos do equilíbrio da Terra.
Dr. Cruz chegou a titubear. Mas, ele está comprometido. E aqui neste nosso metaverso, este médico intensivista representa os movimentos em defesa do planeta. Mas, a minha pergunta neste episódio é: será que temos corpos para um planeta esgotado?
Dr. Cruz: Eu já digo logo que os corpos humanos não têm resiliência para o que vem por aí!!!
Terra : Quem me adoece, perecerá!
Adrielen: Eu sou Adrielen Alves, jornalista de ciência. Este é o episódio seis da primeira temporada do podcast: S.O.S! Terra Chamando! Uma parceria da Empresa Brasil de Comunicação e da Casa de Oswaldo Cruz.
🎵 🎵 Sobe Som 🎵 🎵
Adrielen: Furiosa. Se pudéssemos associar um humor à Terra, hoje, eu diria, por minha conta e risco: furiosa!
E você? O que diria? Irritada? Cansada? Descompensada? Desiludida? Ok! Dá pra marcar todas as alternativas.
Todas essas alterações são reflexo de um planeta, que pelo menos no último século, vem sendo atacado por incêndios criminosos, poluição do ar e das águas, exploração sem medida dos recursos não renováveis.
Por mais viva que seja, a Terra está em esgotamento.
Terra: Ou seja: acabou, acabou!
Dr. Cruz: Mas, acabou pra quem?
Adrielen: Boa pergunta. A Terra, um planeta rochoso do sistema solar, em seus quase 4 bilhões e meio de anos, já passou por cinco grandes extinções em massa. Eu disse: cinco. A última, eliminou dinossauros. Simplesmente, dinossauros. Já a Terra….
Terra: Eu sigo aqui…rochosa, rochosa!
Adriana Alves: O bom da geologia é que ela te dá…. para a dinâmica de Gaia, a gente não significa nada, assim como os dinossauros de grande porte não significaram nada. Um meteoro veio, uma grande erupção e eles simplesmente desapareceram. Então, há uma sucessão biológica que é quase que natural. Eu tenho um texto que é um dos que acho mais bonitos, de como a vida se recupera das extinções em massa, que acho que o verso da Maya Angelou, ‘Still I will rise’, é perfeito. Porque ainda assim a vida se ergue. Não a mesma vida, de antes da catástrofe, da extinção em massa, mas uma vida adaptada às novas condições. Então, eu costumo dizer com as pessoas que me perguntam, qual é o papel humano na dinâmica interna, terrestre, é pouco, nada, é zero. Agora, na dinâmica externa, ele é muito grande. Se a gente pensar sobretudo, é que somos, entre muitas aspas, a única espécie pensante, qual é a nossa responsabilidade com todo o resto da biota? Se a gente vai causar uma extinção em massa e a gente pode elaborar um pouquinho mais nesse tema, não só nós vamos perecer toda uma espécie. A vida como a gente conhece, vai ser dizimada, por nossa culpa. Então, eu costumo brincar que a espécie humana vai ser a primeira a causar a própria extinção.
Adrielen: Esta é a professora de geologia da USP, Adriana Alves. Nesta entrevista, falamos sobre o Antropoceno, sobre a ação dos vulcões no planeta, que é a especialidade da pesquisadora, mas falamos também do poder da Terra. Daí, é que Adriana me explicou a ‘’Dinâmica de Gaia’’.
Para os povos originários da América do Sul, por exemplo, a Terra, é a mãe de todas as coisas, ela é lar, é sustento. Masss, “Terra”, “Pachamama” ou “Gaia”, como preferir chamá-la, age de acordo com o seu humor.
Adriana Alves: “Os povos sul-americanos, os Incas e os Maias, tinham a Terra como um organismo vivo, como se fosse, qualquer ser vivo que a gente conhece. Então, era como se fosse a grande mãe ou a ‘Pachamama’, os peruanos gostam desse termo, mas é basicamente a mesma coisa. É Gaia, como um ser feminino que provê tudo aquilo de que a vida necessita. Então, Gaia tem um coração que seria o núcleo, Gaia tem dispositivos de, vamos dizer assim, de demonstração de fúria, que seriam vulcões, terremotos que vêm da dinâmica mantélica, e aí vem toda a parte da crosta terrestre que onde a gente vive. Gaia quem nos dá água, alimento,. Porque em última instância, a dinâmica terrestre é que permitiu que a radiação solar chegasse até aqui sem ser danosa. Então Gaia é essa entidade quase que mitológica, que representaria a Terra, que é a mãe de tudo e que provê, conforme os seus humores, digamos assim.
Adrielen: Raios! Relâmpagos! E trovões! Com a fúria da natureza, em resposta à ação humana, nossa existência está ameaçada. Isso é indiscutível.
Se estamos a caminho ou não da sexta grande extinção em massa, só nós, humanos, poderemos responder. Até lá (mas tomara que não), a Terra segue reagindo. E nossos corpos adoecendo.
Se poluída, desmatada ou incendiada, a Terra sofre com a piora do efeito estufa…
Dr. Cruz: E os humanos pagam a conta com várias doenças, como as doenças do coração, as respiratórias, entre outras.
Adrielen: Se superaquecida, a Terra causa o derretimento do gelo polar. Daí, vem o aumento do nível do mar, inundações.
Dr. Cruz: Os humanos correm sérios riscos de infecções, como a leptospirose, e até câncer.
Adrielen: Com a mudança do regime de chuvas, vêm as secas desoladoras e escassez de água.
Dr. Cruz: Para os seres humanos, o resultado é, além da diarreia, desnutrição e dengue.
Adrielen: O Relatório IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima 2023 - mostra em detalhes como a saúde física e mental humana tem sido afetada.
Dr. Cruz: A situação é grave!
Adrielen: O Relatório aponta também para a ocorrência de doenças de origem alimentar e hídrica e para o aumento de doenças transmitidas por vetores como o Aedes aegypti, para surtos e epidemias.
Adrielen: Em outra frente de pesquisa, há projeções de aumento da malária e leishmaniose, segundo pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz.
🎵 Sobe Som 🎵
Adrielen: Em meio a tantos CIDs, a sigla para Classificação Internacional de Doenças, uma preocupação é real. A crise hídrica, como foi lembrada no episódio cinco aqui do podcast…
Terra: Não ouviu? Volta um pouquinho!
Adrielen: Isso mesmo! A crise hídrica e também a alimentar estão entre as maiores ameaças e preocupações, segundo relatórios das Nações Unidas sobre o clima.
Esses problemas podem levar a um mal letal: a fome. Quem nos conta é Eugênio Scannavino Netto, médico infectologista, radicado na Amazônia. Ele dedica a vida a atender a população ribeirinha do estado do Pará, que enfrenta uma das piores secas já vistas.
Dr. Eugênio Scannavino Netto: Aqui na Amazônia nós estamos vivendo agora, por exemplo, uma enorme seca. E as comunidades passaram a sentir fome, porque elas dependem muito do meio ambiente para viver. Então, a seca, ela não só traz incêndios, mas ela também, reflete totalmente na agricultura familiar, as pessoas vivem da floresta! Então aquela pequena roça que eles fazem, não brota, isso já é um grande impacto. Fora isso, a água está muito baixa, aqui todo mundo que vive da água, né, de transporte, os rios estão baixos, e essa água estando baixa tá afetando as comunidades e deixando muito distante, a chegada de alimento, a chegada de medicamento, a remoção de pacientes, né, ficou muito difícil. As comunidades ficam realmente isoladas, além do que a água fica de baixíssima qualidade, uma água barrenta, (...) e contaminada com os esgotos das cidades, que caem diretamente nos rios, as comunidades ao consumir essa água, adquirem doenças como diarreia, surtos de diarreia…. essas comunidades que são justamente as comunidades que mais preservam a floresta, que mais protege a Amazônia.
Adrielen: Quanto mais vulnerável a comunidade, mais ela é impactada.
Dr. Eugênio Scannavino Netto: “Olha, a mudança climática, ela afeta diretamente as comunidades, né, com a questão da água (...) e muita fome. Então está existindo muita desnutrição, anemia, doenças decorrentes de verme, né, que também traz a água nas parasitoses, doenças de pés, tudo isso são coisas que se somam quando você tem uma crise hídrica, com água contaminada, né, além de outros doentes que surgem eventualmente, com diabetes, etc. Mas, basicamente, são doenças simples, como a diarreia, parasitoses, doenças de pele, fome, desnutrição, né, somadas a um calor intenso, somadas a um esforço físico, enorme, que é para buscar água na cidade, cerca de 2 km a pé, ainda de água ruim. Então, tudo isso acaba acarretando uma situação bem grave nas comunidades, você soma várias coisas simples, ela se torna bem grande.
Terra: Talvez eu esteja é desesperançosa com a humanidade! Mas, eu me levanto!
Adrielen: ‘’Do fundo das cabanas da humilhação, me levanto. Do fundo de um pretérito enraizado na dor me levanto. Sou um oceano negro, marulhando e infinito, sou maré em preamar. Para além de atrozes noites de terror me levanto. Rumo a uma aurora deslumbrante me levanto. Trazendo as oferendas de meus ancestrais. Portando o sonho e a esperança do escravo. Ainda me levanto. Me levanto. Me levanto’’
O trecho é de ‘’Still I Rise’’ de Maya Angelou, poeta norte-americana, ativista política, amiga de Martin Luther King. Ela foi citada no começo do episódio pela professora Adriana Alves, e aqui na minha humilde interpretação nos convida à resiliência! Nós: Terra e humanos.
Sim, porque para seguirmos, vivos, precisaremos de corpos mais resilientes, como bem lembra o guardião do planeta, Carlos Nobre.
Carlos Nobre: Olha, os meus netos, um dia quem sabe até, bisnetos, tataraneitos, ..eles terão que entender, que, por exemplo, na minha geração, nasci em, 1951.. eu talvez enfrente 10, 15 ondas de calor na minha vida. Os meus netos vão enfrentar, mesmo que a temperatura fique um grau e meio, eles vão enfrentar 40, 50 ondas de calor, e se a temperatura continua subindo, eles vão enfrentar 70 ondas de calor, quando eles tiverem com a minha idade, eles vão estar vivendo um calorão que mais leva a morte por esses eventos climáticos extremos. Estão só podendo, eles vão ter que aprender, eles vão ter que fazer o que a minha geração não fez, se tornarem muito mais resilientes a todos os eventos extremos. Mas a minha geração que foi aquela que a ciência mostrou a mudança climática, o risco é emergência climática, mas as outras novas gerações tem que fazer alguma que é, algo que a minha não fez, que é reduzir o risco, zerar todas as emissões e tornar a população muito mais resiliente às mudanças climáticas, então eu espero realmente que meu neto esteja na geração que vai achar as soluções para salvar o planeta.
Adrielen: Eu também espero, Dr. Carlos!
🎵 Sobe Som 🎵
Terra: Acredita que enfermeira me disse há pouco que estou é ansiosa!
Dr. Cruz: Ah, pode estar mesmo. Tanto tempo na UTI, com febre e falta de ar. Tudo colabora.
Terra: Nem sei se é ansiedade ou se já é um luto!
🎵 Vinheta Encerramento 🎵
Adrielen: No sétimo episódio: Quem se responsabiliza pelos danos à saúde física e mental dos seres humanos?
Este é o S.O.S! Terra Chamando! O podcast sobre a saúde do planeta. Uma co-produção da Empresa Brasil de Comunicação e da Casa de Oswaldo Cruz.
Eu sou Adrielen Alves, responsável pela idealização, roteiro e apresentação. A pesquisa e a produção são de Anita Lucchesi e Teresa Santos.
A edição de conteúdo é da Julianne Gouveia.
A revisão é da Ana Elisa Santana, que também faz a locução do poema de Maya Angelou.
Fazem parte da comissão técno-científica: Carlos Machado de Freitas da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca; Carlos Henrique Assunção Paiva, Diego Vaz Bevilaqua, Dilene Raimundo do Nascimento, Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz; e Tereza Amorim Costa, do Museu da Vida Fiocruz, unidades da Fundação Oswaldo Cruz.
Os atores são Georgiana Góes e Pablo Aguilar.
O apoio à produção em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, ficou por conta de Adriana Ribeiro, Mara Régia e Victor Ribeiro. A operação de áudio é de Álvaro Seixas, Thiago Coelho e Reynaldo Santos, Thales Santos e Reinaldo Shiro.
A edição final e a sonoplastia são da Pipoca Sound.
Este episódio usa áudios de Adriana Alves, professora do Instituto de Geologia da USP, de Eugênio Scannavino Netto, médico infectologista, e Carlos Nobre, climatologista.
Até a próxima!
🎵 Vinheta Encerramento 🎵
🎵 Som de fita voltando 🎵
Beatriz Arcoverde: Também contribuíram na Coordenação de Processos, implementação e publicação nas plataformas: Equipe da Radioagência Nacional - EBC, Interpretação em Libras: Equipe de tradução da EBC, na edição de vídeo para o youtube: Mateus Araújo e o responsável pela arte: Vinícios Espangeiro.
🎵 Vinheta de Encerramento 🎵
Para ler no celular, basta apontar a câmera