13/10/2025 às 16:20
As promessas de paz na Faixa de Gaza, que marcaram o discurso do presidente Donald Trump nesta segunda-feira (13) ao Parlamento Israelense, precisarão ser consolidadas em uma "primeira fase" de estabilização, ao longo das próximas semanas. É o que afirmam especialistas em Relações Internacionais.
Segundo o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Roberto Menezes, diferente de outras vezes que o cessar-fogo foi anunciado, nos últimos dois anos, desta vez ele foi imposto pelos Estados Unidos a Israel.
"Netanyahu sabe que ele não pode contrariar Trump. Nós vimos hoje mais cedo no parlamento, né, israelense, toda a reverência ao presidente Trump, de tal modo que é muito difícil a situação para Netanyahu, caso ele queira boicotar aquilo que o presidente Trump patrocinou e afiançou no Egito".
O coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da PUC Paraná, João Nyegray, avalia que há três pontos cruciais do acordo mediado pelos Estados Unidos, que vão determinar o sucesso do plano de paz. O primeiro, se os ataques militares pararem de fato.
"No curto prazo, a paz só vai avançar se essa fase que a gente tá vendo agora se consolidar sem incidentes. A libertação dos reféns, a libertação dos quase 2 mil prisioneiros palestinos, a entrega dos corpos dos reféns israelenses mortos e uma escala sustentável de ajuda humanitária que devem ser aí na casa de 600 caminhões de ajuda humanitária por dia, enquanto Israel permanece recuado, nas linhas acordadas previamente".
Se o acordo funcionar por algumas semanas, ele abre a porta para a reconstrução, possivelmente ancorada por doadores árabes, o que pode reforçar a ideia da existência de dois estados: Israel e Palestina. Mas também abre a influência ocidental sobre uma área e uma população abaladas pela guerra, argumenta João Nyegray.
"Nada acontece no vácuo geopolítico. Então, essa trégua, ela reduz calor em outras frentes, a frente do Hezbollah no Líbano, dos Houthis no Mar Vermelho. Os Estados Unidos e europeus querem estabilizar e reconstruir, sauditas querem ter o protagonismo regional, turcos e egípcios querem capitalizar a mediação. E o Irã vai ter que recalibrar o que vai fazer a partir de agora, ou seja, Gaza efetivamente está virando um palco de diplomacia de cheques e de engenharia institucional".
Se a paz e a reconstrução vierem, o terceiro tema, de acordo com o coordenador da PUC Paraná, é a "estabilidade geopolítica", ou seja, os interesses que envolvem a agenda e o financiamento dos exércitos e grupos que atuam na região.
Outro ponto de tensão são as exigências de desarmamento do Hamas, lembra o professor Roberto Menezes.
"Esse é um tema delicadíssimo, né? Não sabemos se ele vai fazer de fato parte, né, do rol, pontos do plano do plano de paz ou se ele fica para um outro momento. Caso, né, Israel coloque como uma condição sine qua non para seguir com os outros pontos do plano de paz, aí é uma sombra que vai pairar sobre esses esforços que nós estamos vendo".
Os especialistas em Relações Internacionais também citaram a intervenção política, que pode minar a confiança no processo.
Em seu discurso no Parlamento Israelense, por exemplo, Donald Trump voltou a defender o perdão judicial de Netanyahu, acusado domesticamente de corrupção desde antes do início da guerra, o que tiraria a confiança no processo de paz.
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