20/08/2018 às 07:11
Gay e colega de partido do presidenciável Guilherme Boulos, Oton venceu com 49% dos votos após uma campanha barata
A primeira metade do mandato do professor Oton Mário, 43, como prefeito de Jaçanã (a 150 km de Natal) teve festa pela derrocada de líderes políticos locais, bate-boca com vereadores e rompimento com a vice - após uma intriga no WhatsApp, ele trancou a sala que ela usava.
A próxima metade dependerá de como essas peças vão se organizar depois do resultado do processo de cassação que a Câmara abriu em julho contra o prefeito, um dos dois eleitos pelo PSOL no país em 2016.
O outro vitorioso da legenda foi em Janduís, também um município potiguar.
Gay e colega de partido do presidenciável Guilherme Boulos, Oton venceu com 49% dos votos após uma campanha barata, na qual o baixo orçamento rendeu a ele o apelido de "Liso". Andou tanto pedindo voto que perdeu 7 kg.
"Nem o partido acreditava na gente. Achava que era um louco que queria se aventurar", diz ele ao receber a reportagem em seu gabinete numa manhã de quinta-feira, dias atrás.
O prefeito não é psolista fervoroso - nem tem certeza se fará campanha para Boulos. Foi parar na sigla por se identificar com algumas bandeiras, como o apoio à causa LGBT.
"Sou muito cobrado para ser mais militante, mas não foi por causa do partido que venci. Digo [às lideranças]: Vocês estão na capital. As lutas, contextos e demandas são distintas. Aqui no chão, onde as coisas acontecem, é diferente.
Na campanha, enquanto a única ajuda vinda do PSOL eram "uns santinhos", enfrentava ataques, muitos à boca miúda, por ser homossexual.
"Usaram isso para me denegrir. Ah, quem vai ser a primeira-dama? É porque não tinham nada contra minha índole." Segundo ele, que diz estar solteiro, o preconceito só deu as caras durante a disputa. Hoje em dia, é respeitado.
Fala que, na rotina da prefeitura, estão presentes bandeiras do PSOL como "honestidade, não se corromper, não trabalhar com propinas". Oton circula nas ruas entre acenos e sorrisos e diz que uma pesquisa lhe dá 80% de aprovação.
Então por que a Câmara Municipal abriu um processo de impeachment contra ele?
O prefeito afirma ser vítima de perseguição por ter cortado regalias de vereadores e cruzado o caminho da classe política jaçanaense. "Não aceitam terem perdido para alguém sem tradição", diz.
No balcão de sua farmácia, em frente à Câmara, o ex-vereador Gilberto Silva, 62 (que já foi do PFL e do PSB), resume: "Toda vida teve toma lá, dá cá. O vício da política é triste. Os vereadores se doeram porque perderam a participação no governo. Foi isso".
Silva é espectador privilegiado dos protestos às terças, dia de sessão do Legislativo, desde que a cassação entrou na pauta. Vídeos mostram a multidão gritando "não vai ter golpe" e "fora, golpistas".
"A maioria das pessoas está a favor do prefeito", diz o comerciante. "Quando assumiu, ele foi muito macho em falar: Não preciso de vereador para trabalhar e para cumprir minhas promessas, relembra. noticiasaominuto
Fonte: Repórter PB
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