
22/12/2025 às 10:00
Faltam apenas cinco anos para 2030. A data, que para muitos pode parecer distante, é o "prazo de validade" estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para que o mundo cumpra os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). É com esse senso de urgência, mas sem perder a leveza, que o podcast Crianças Sabidas estreia sua nova temporada.

No episódio de abertura, a perguntadeira Madu (Maria Eduarda Arcoverde) e a jornalista Akemi Nitahara explicam que os ODS não surgiram do nada. Eles são a evolução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), criados no ano 2000.
A série define a Agenda 2030 não apenas como um documento técnico, mas como um compromisso ético. Para Enid Rocha, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o significado é profundo: "A Agenda 2030 é uma promessa feita às novas gerações. Se quisermos um futuro sustentável, precisamos olhar agora para essas gerações, garantindo escolas, saúde e proteção".
O podcast também aborda temas densos, como o impacto das decisões das grandes potências no cumprimento dessas metas. Com o recuo dos Estados Unidos em programas de desenvolvimento da ONU em 2025, o debate sobre um mundo multipolar ganha força.
Thiago Ghere Galvão, coordenador executivo da Comissão Nacional para os ODS, destaca que outros blocos, como o BRICS, e países como a China, assumem novos protagonismos. Para ele, os ODS hoje representam um campo de resistência: "Significa conseguir avançar numa pauta de direitos que inclui as crianças".
Vozes de quem vai herdar o planeta
O diferencial do Crianças Sabidas segue sendo o protagonismo infantil. O primeiro episódio apresenta a ativista mirim Mavi (Maria Vitória Brilhante), de 12 anos. Com a experiência de ter palestrado na COP28 em Dubai, ela traduz de forma simples o que os adultos tentam complicar: "Os ODS são metas para tentar reduzir a desigualdade e as questões climáticas, para poder desenvolver sem afetar o meio ambiente".
A temporada terá sete episódios, abordando temas como o combate à fome e à pobreza, a preservação do meio ambiente e a paz.
👉 Ouça o primeiro episódio: O podcast Crianças Sabidas é uma produção da Radioagência Nacional.
🎙️Os episódios também estão nas principais plataformas de áudio.
💬 Você pode conferir, no menu abaixo, a transcrição do episódio, a tradução em Libras e ouvir o podcast no Spotify, além de checar toda a equipe que fez esse conteúdo chegar até você.
VINHETA CRIANÇAS SABIDAS🎶
SUBVINHETA: Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
SOBE SOM🎶
SUBSUBVINHETA: Episódio 1 - ODM, ODS e governança global
MADU: Oi pessoal! Que saudades! O ano passou tão corrido que a gente quase não aparece por aqui. Aconteceu tanta coisa em 2025 que os jornalistas da EBC ficaram muuuuito ocupados. Mas o ano já está acabando e a gente precisa tratar de um tema muito importante, sobre o futuro de nós, crianças. E do planeta também. E não estamos falando da COP30.
AKEMI: É isso aí, Madu. Faltam apenas cinco anos para chegar a data que a ONU colocou para cumprir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, os chamados ODS. Ah, eu sou Akemi Nitahara, uma jornalista muuuito ocupada da Empresa Brasil de Comunicação.
MADU: Ah é, faltou me apresentar, foi mal. Eu sou a Maria Eduarda Arcoverde, a perguntadeira oficial aqui do podcast Crianças Sabidas. A gente tem uma notícia que é feliz e triste ao mesmo tempo... O nosso explicador, o Caetano Farias, não vai poder participar desta série. Mas é porque ele agora tem uma irmãzinha pra ajudar a cuidar, a Penélope.
AKEMI: Muito bem-vinda a esse mundo, Penélope, que estamos tentando cuidar pra que ele seja um bom lugar pra você crescer.
MADU: Muito bem, então vamos começar pelo começo. O que são esses Objetivos do Desenvolvimento Sustentável?
AKEMI: Então, vamos ter que voltar um pouquinho mais no tempo e explicar o que foram os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, os ODM, que vieram antes dos ODS.
MADU: Eita, mais uma sopa de letrinhas... isso é coisa da ONU, né?
AKEMI: Isso mesmo, Madu! Lembram da ONU, né? A Organização das Nações Unidas foi criada em 1945, depois de Segunda Guerra Mundial, quando os países se reuniram para tentar garantir a paz no planeta.
MADU: Vamos lembrar da Carta da Nações Unidas? Nós falamos dela lááááááááá no primeiro Crianças Sabidas, que foi sobre Direitos Humanos. Se não ouviu ainda, procura aí no seu tocador.
EFEITO SONORO DE VOLTA NO TEMPO🎶
ZÉ CARLOS: Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz.
EFEITO SONORO DE VOLTA NO TEMPO🎶
MADU: Então, primeiro. O que foram esses ODM?
AKEMI: Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio foram estabelecidos no ano 2000, com oito metas internacionais para garantir o acesso aos direitos humanos. Eles deveriam ser cumpridos até o ano de 2015. A ideia era colocar esses temas na agenda global de discussões, incentivando os países a propor soluções criativas para os problemas. Cada um no seu próprio território.
MADU: Quais eram esses oito objetivos?
AKEMI: Vamos pedir pra uma criança do milênio ler pra gente? A Naomi nasceu em 2001, então esses eram os objetivos mundiais na época:
NAOMI: 1. Acabar com a fome e a miséria. 2. Educação básica de qualidade para todos. 3. Igualdade entre sexos e valorização da mulher. 4. Reduzir a mortalidade infantil. 5. Melhorar a saúde das gestantes. 6. Combater a AIDS, a malária e outras doenças. 7. Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente. 8. Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.
MADU: Já entendi tudo... esses objetivos não foram alcançados até 2015, o ano que eu nasci, e o mundo precisou fazer novos, dando mais tempo pra cumprir.
AKEMI: Exatamente, Madu! Criança sabida é assim, de tanto ouvir e fazer o podcast já lembrou que falamos de vários desses problemas por aqui, né?
MADU: Mas melhorou alguma coisa com os ODM?
AKEMI: Com certeza! No Brasil mesmo, o governo na época falou que o país cumpriu sete dos oito objetivos. Claro que não resolveu tudo, mas melhorou sim. Por exemplo, o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU em 2014. Depois voltou durante a pandemia de Covid-19, em 2021. E saiu de novo em 2024.
MADU: Uhum, eu lembro disso. Vamos falar dos ODS então. Temos convidados?
AKEMI: Claro! Nessa série vamos ter muitos! Incluindo muitas crianças falando o que precisa melhorar até 2030.
ENID: Eu sou Enid Rocha, eu sou pesquisadora do IPEA na área na Secretaria de Estudos e Políticas Sociais, na coordenação de igualdade de gênero, raça e gerações, né? Então, eu fico especificamente nessa área de gerações, trabalhando com as temáticas de criança, adolescentes e jovens, pobreza, desigualdade. Eu sou economista e doutora em sociologia.
AKEMI: O Ipea, onde a Enid trabalha, é o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Ele faz parte do Ministério do Planejamento e faz muitos estudos para ajudar o governo a decidir como devem ser as políticas públicas.
ENID: Então, nós subsidiamos os gestores públicos, os decisores, né, da política no Brasil por meio de estudos, pesquisas, adequação de programas governamentais, avaliação dos programas. Então, a gente diz que é como se o IPEA fosse a voz crítica do governo federal, porque nós fornecemos os nados, né? Fazemos a avaliação das políticas para os tomadores de decisão.
MADU: E o que os ODS têm a ver com o Ipea?
ENID: Em relação aos ODS, eu trabalhei diretamente na coordenação dos relatórios nacionais voluntários do Brasil, né? Então, eu representava, até o ano passado, o IPEA na Comissão Nacional dos ODS, e esses relatórios ficaram então sob minha coordenação. Os relatórios que mostram o andamento dos ODS no Brasil, que são apresentados no Fórum de Alto Nível da ONU, né, que o Brasil apresenta de tempos em tempos. Ele apresentou o último relatório em 2024 e vai apresentar novamente em 2026.
MADU: Ah, entendi. Então a Enid é mesmo perfeita pra participar desta série. Quem mais?
THIAGO: Meu nome é Thiago Ghere Galvão, sou professor da Universidade de Brasília e estou como coordenador executivo da Comissão Nacional para os ODS que fica aqui na Secretaria Geral da Presidência da República.
AKEMI: O Thiago explicou que a Comissão ficou um tempo parada e foi retomada com força em 2023, quando o Brasil voltou a se interessar pela cooperação com outros países para o desenvolvimento global.
THIAGO: A comissão hoje, ela foi recriada em 2023, foi reestruturada, né, a partir dessa visão mais de mais participação social, né? de ter mais gente de outros lugares da sociedade, né, que pudessem de alguma forma contribuir para os diálogos sobre o desenvolvimento sustentável em geral, mas alguns aspectos do desenvolvimento sustentável que toca diferentes setores, né, seja comunidades tradicionais, povos indígenas, seja discutir mais financiamento ou estratégia da agenda. Seja, por exemplo, construir o caminho para uma ODS 18 sobre igualdade étnico-racial. Então, tudo isso foi ganhando vida na medida em que a gente conseguiu ter um desenho de comissão mais abrangente, mais participativo, né. Desde 2023, né? Tentar tornar esse um espaço de participação social, né? De inclusão, né? para que diferentes setores da sociedade pudessem opinar, pudessem trazer seus interesses, né? E contribuir com o governo.
MADU: Participativo é sempre melhor! E as crianças? Não estão sabendo dos ODS?
AKEMI: Tem criança sabida muito interessada nos ODS sim!
MAVI: Meu nome é Maria Vitória Brilhante, mais conhecida como Mavi. Eu tenho 12 anos, sou uma ativista ambiental mirim e fui a criança mais jovem da delegação brasileira a palestrar na COP28 em Dubai. Meu objetivo principal é com que mais crianças e jovens possam ter suas voz ouvidas pelo mundo.
MADU: Já gostei dela!! Ativista ambiental mirim, amei! Mavi, explica pra gente o que são os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio.
MAVI: Então, eu explicaria que os ODS eles são os objetivos de desenvolvimento sustentável que são metas que as pessoas fizeram, até o ano de 2030 para eles tentarem reduzir as questões de tipo desigualdade de gênero, questões climáticas para poder desenvolver porém sem afetar o meio ambiente.
AKEMI: Tem uma explicação da Enid que eu gostei muito:
ENID: A agenda 2030, ela é uma promessa feita às novas gerações
MADU: Nossa, que lindo! São quantos Objetivos?
AKEMI: São 17 Madu... no Brasil são 18 porque decidimos que a igualdade racial também é muito importante. E dentro desses 17 objetivos mundiais, existem 169 metas. Nós vamos fazer ao todo sete episódios, cada um explicando como o Brasil está avançando nos Objetivos. Daí a gente juntou alguns que falam de coisas parecidas. Por exemplo, seis deles falam de meio ambiente, como água potável, energia limpa, cidades sustentáveis, vida na água...
MADU: Claro, né, a emergência climática está aí e todo mundo tem que se preocupar com isso.
ENID: A gente pode pensar que a agenda 2030, ela é um grande plano de ação, né? Ou seja, ele seria assim um grande mapa, nosso mapa do mundo os 17 ODS, no Brasil os 18 ODS, seriam os caminhos que a gente precisa percorrer para alcançar o desenvolvimento sustentável. Porque o Brasil, ele tem esse histórico internacional de agendas multilaterais, né? Você vê nos ODM's, o Brasil alcançou praticamente todas as metas. Então nós somos, no caso dos ODS, o país, né, pioneiro de adequação das metas globais para o Brasil. A gente participa, tem essa comissão nacional que é uma riqueza de participação, né?
MADU: Mas... vem cá... O presidente dos Estados Unidos não falou que não quer mais ajudar a ONU e todas essas coisas? Como fica essa discussão mundial sem o país mais rico do mundo?
AKEMI: Verdade, Madu. O Donald Trump cancelou 80% dos programas da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. Isso diminuiu muito a capacidade da ONU a levar ajuda humanitária para quem precisa, como nas áreas em guerra. Mas o Thiago, da Comissão dos ODS falou que outros países acabam assumindo esse papel de liderança mundial.
THIAGO: É claro que o impacto da ausência dos Estados Unidos no sistema multilateral é muito grande, né? Mas, em contrapartida você tem as movimentações naturais, né? Outros lugares do mundo que vão começar a albergar as agências da ONU, outros países vão ter que aportar mais recursos, isso vai acabar acontecendo, né? O BRICS tá aí como uma grande opção pro sistema internacional, inclusive no âmbito financeiro, né? Então, tem uma movimentação também interessante, né? Acho que a gente não tá tão refém assim dos Estados Unidos, porque a ordem internacional, a ordem global, ela é, por natureza, ela é multipolar. È isso que a gente tá vendo, a multipolaridade em ação, né, para tentar evitar, obviamente, que os Estados Unidos se apresente como o único xerife do mundo e tal, né? E a China é o grande contestador dessa ordem, que está já em decadência, liberal, né? cuja a liderança dos Estados Unidos já não faz muito sentido e não consegue manter, né? Na verdade já tem vários diagnósticos que a gente está vivendo uma ordem que a gente chama sinocêntrica, na qual a China é o centro já dessa ordem e que o que os Estados Unidos estão fazendo é tentando é reduzir os danos colaterais da sua perda de influência e da sua perda de hegemonia, né? É isso que ele tá fazendo.
AKEMI: De acordo com o Thiago, basicamente Estados Unidos e Israel estão atualmente contra essa agenda de desenvolvimento global. Então ainda tem muitos países empenhados em fazer os ODS darem certo.
THIAGO: A gente assumiu a agenda 2030 dos ODS no campo da resistência. Resistência ao autoritarismo essa resistência contra, né, o fascismo e os seus desdobramentos em violências diversas, né? Então, acho que o ODS hoje ele tem esse significado muito mais forte e profundo do que já teve, né? No passado, ele era uma pauta liberal, né, relacionada a uma agenda de desenvolvimento global. Hoje, para a gente, ele significa justamente isso, conseguir avançar numa pauta de direitos, né? De última geração, que incluem as crianças, por exemplo, né?
MADU: Vamos encerrando esse primeiro episódio por aqui, com um recado da Enid: Todo mundo precisa pensar em nós, crianças! E no mundo que em que queremos viver daqui a cinco anos.
ENID: Eu gostaria de deixar esse recado, né? De que em última instância, a agenda 2030, ela é uma promessa feita às novas gerações, né? Então, se a gente quiser um futuro sustentável, a gente precisa olhar agora pra essas gerações garantindo escolas, saúde, alimentação, proteção e participação. Ou seja, colocar as crianças no centro da agenda 2030, eu acho que seria a forma mais segura da gente dar um sentido a esses objetivos, né? Porque é para essa geração que a gente tá fazendo tudo isso agora.
SOBE SOM🎶
CRÉDITOS
MADU: Este foi o primeiro episódio do podcast Crianças Sabidas sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Crianças Sabidas é uma produção original da Radioagência Nacional, um serviço público de mídia da EBC, a Empresa Brasil de Comunicação. Eu sou a Maria Eduarda Arcoverde, a perguntadeira, tenho 10 anos.
AKEMI: A reportagem, entrevistas, roteiro, apresentação e montagem foram minhas, Akemi Nitahara.
Edição e coordenação de processos de Beatriz Arcoverde, que também fez a implementação web junto com Lincoln Araújo.
Caio Freire Cardoso Oliveira grava o título dos nossos episódios.
A locução do trecho da carta da ONU é de José Carlos Andrade.
Naomi Nitahara Toribio gravou os Objetivo de Desenvolvimento do Milênio.
Trabalhos técnicos de Jaime Batista e Tony Godoy.
Interpretação em Libras da equipe de tradução da EBC.
A música tema original do Crianças Sabidas foi composta por Ricardo Vilas.
Também usamos composições de Newton Cardoso para o banco de trilhas de EBC.
MADU: No segundo episódio da série, vamos falar de fome e pobreza. Até a próxima!
Apresentação, entrevistas, reportagem, roteiro e montagem | Akemi Nitahara |
| Edição e coordenação de processos | Beatriz Arcoverde |
| Voz do título do episódio | Caio Freire Cardoso Oliveira |
| Perguntadeira | Maria Eduarda Arcoverde |
| Locução | José Carlos Andrade |
| Trabalhos técnicos | Jaime Batista (BSB) Tony Godoy (RJ) |
| Participação Especial | Naomi Nitahara Toribio |
| Arte | Caroline Ramos |
| Interpretação em Libras: | Equipe EBC |
| Música tema original | Ricardo Vilas |
| Composições do banco de trilhas da EBC | Newton Cardoso |
| Implementação na web:: | Beatriz Arcoverde e Lincoln Araújo |
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