Sousa/PB -

Extras

Na Paraíba morte de homem em recinto de leoa alerta sobre saúde mental

Rádio Agência

01/12/2025 às 22:53

Tamanho da Fonte

O caso do homem que morreu após invadir o recinto de uma leoa no Parque Arruda Câmara, a Bica, em João Pessoa, abriu uma discussão urgente sobre saúde mental e a forma como famílias e serviços especializados lidam com situações de alto risco. Gerson Melo escalou uma estrutura de mais de seis metros, ultrapassou a grade de segurança e entrou no viveiro do animal no último domingo. O comportamento chamou a atenção pela gravidade e pela perda total da noção de perigo — algo que, segundo especialistas, pode estar ligado a transtornos psiquiátricos severos.

O psiquiatra Rivando Rodrigues explicou o que pode levar a esse tipo de situação e a necessidade de ser internado: “Chega-se a uma situação como essa porque o paciente está desconectado da realidade. Então ele precisa ser avaliado, e a intervenção de internamento, obviamente, porque chegar a um ponto desses indica que ele está completamente desconectado da realidade. Isso levou a própria vida dele, como poderia levar a de outras pessoas. Um paciente psicótico, ou um paciente com alucinações, com delírios, pode ficar desconectado da realidade. Obviamente que isso é uma exceção, vamos dizer assim, chegar a um ponto desses, né? Mas quantos pacientes assim precisam de uma intervenção mais imediata. E quantos pacientes estão realmente sem um cuidado do setor público e sem locais para essa intervenção, que poderiam minorar a situação do paciente?"

Rivando também detalhou o que caracteriza um surto psicótico e quais sinais podem surgir antes de um episódio crítico: “Um surto psicótico se caracteriza por vários sintomas, como agitação psicomotora — o paciente fica muito agitado. O paciente pode ficar agressivo, ele pode ter alucinações, que seriam a audição de vozes, né, que falam no ouvido dele. Ele pode ter um delírio, uma ideia falsa, né? Que, mesmo pela nossa intervenção, o paciente não muda essa ideia. Pode ficar andando de um lado pro outro, pode ter uma percepção anormal das coisas, desconectado da realidade.”

Em média, Gerson era acompanhado pelo Caps Caminhar, um dos serviços da rede de saúde mental de João Pessoa. A diretora da unidade, Janaína de Mary, explicou como ele vinha sendo atendido: “Ele vinha sendo acompanhado desde a sua infância, no Caps infantil. Na sua fase adulta também. Embora ele tenha chegado aqui em 26 de dezembro do ano passado, mas tinha muita dificuldade de aderir ao tratamento. A gente entende que Gerson, por faltar essa rede de apoio, dificultava o seu tratamento. Então não tinha adesão. Ele veio pra você em dezembro, depois desapareceu. Fizemos algumas visitas ativas, depois ele retornou em junho e depois desapareceu de novo. Quando fomos buscar informações, ele estava em um hospital psiquiátrico em Recife. Chegou semana passada e veio direto ao serviço, onde atendemos novamente e ofertamos o tratamento para continuidade. Infelizmente, esse fato aconteceu no domingo, e o último dia que ele esteve aqui foi na quinta-feira. Na sexta, ele já não compareceu mais.”

Mesmo sem acompanhamento, familiares dizem que Gerson vivia uma rotina de vulnerabilidade profunda. A prima dele, Ícara Menezes, relatou como ele era no particular: “Ele era um menino que, digamos assim, não era uma pessoa agressiva, não era uma pessoa má. Por conta das passagens que ele tem, as pessoas estão acostumadas a dizer que ele era um ladrão, isso e aquilo. Mas quem conhecia ele sabe que, muitas vezes, ele fazia essas coisas em troca de um bombom, de um pirulito, de um favor, de um prato de comida. Ele era o tipo de pessoa de quem as pessoas se aproveitavam. Ele andava muito pela rua e, em troca de um prato de comida, muitas vezes pediam pra ele fazer um favor. E ele ia lá, roubava, entregava àquela pessoa, pegava o prato dele e saía pra almoçar. Pra ele, aquilo era um favor. Ele nunca roubou ninguém para fumar maconha, para usar droga, para nada. E assim foi a vida pregressa dele. Infelizmente, ele só queria apoio, só queria família — e ele nunca teve.”

4:39

Continuar lendo ...
Ads 728x90

QR Code

Para ler no celular, basta apontar a câmera